(parte 2 de 3)
A mãe de uma aluna é artista plástica e lá eu vi a figura de uma gueixa, quase sensual, e pensei:
No mundo animal, sempre foi o macho o responsável pela árdua tarefa de tentar se tornar objeto de desejo. Afim de angariar fêmeas para reproduzir, eles desenvolveram penas mais coloridas, papos que inflam, sons exóticos e mais um infinito de estratégias. Tudo para tornar-se minimamente cobiçável para o outro, fomentar um apetite por parte do oposto. Mas com a raça humana houve algo de deferente: Os papéis não se inverteram, mas a fêmea deixou seu posto de agente passivo e passou a “investir” igualmente no macho lutando para se tornar também um atrativo. Tal como os Pavões com suas penas, e a Fragata com seu peito vermelho, as mulheres foram desenvolvendo também suas armas. Cabelos, unhas, roupas e adereços são só alguns exemplos de um arsenal cada vez maior para A Missão.
Mas existe um detalhe a se pontuar nos humanos que, imagino eu, seja menos resolvido em nós do que nos animais: nós somos culturalmente machistas. No mínimo temos esta herança histórica. E este machismo, aliado com outras características pessoais como carência, baixa autoestima e até mesmo, simplesmente, gosto, fez com que a figura feminina fosse cada vez mais “objetificada” (tornada um objeto). Não me julgo alguém pudico ou tradicionalista, mas acho curiosa a maneira como tornamos, por exemplo, as redes sociais um Cardápio Humano. É como se estivéssemos perdendo as medidas nessa nossa “propaganda de nós mesmos”. Tudo hoje tem alguma conotação sexual. As músicas na rádio, as fotos na revista, os livros mais vendidos, as novelas e ATÉ (pasmem) os seriados infantis.. E em todos estes a mulher é absurdamente mais explorada. É muito mais comum você ver uma mulher pelada na mídia do que um homem. O que dizer das letras sertanejas? Infelizmente a figura feminina tornou-se um produto consumível e, por vezes, descartável.
Só que existe ainda outro ponto que me surpreende ainda mais: Isso nem sempre incomoda todas as mulheres. Fiz uma pesquisa com 10 mulheres. Perguntei primeiro se elas se incomodariam em serem tratadas como objeto. Todas disseram que “sim, claro”. Depois perguntei se elas se incomodariam em serem conhecidas como um símbolo sexual (um objeto que desperta impulso sexual nos homens por sua aparência física, numa revista por exemplo), apenas 2 não gostariam. Ou seja, parece que “ser objeto” é ruim apenas quando não convém, quando é pejorativo. Existe então a “mulher-objeto socialmente aceita”, aquela que desperta desejo nos homens e, por vezes, é invejada pelas outras mulheres por conta disso. Ser objeto assim, “pode”.
Este comportamento aparece em diversos setores da nossa sociedade. Alguns mais vulgares e escrachados, como um clipe do Mc Catra ou mesmo propagandas de cerveja. Mas também aparece de maneiras mais elegantemente camufladas. Quem nunca foi ao Salão do Automóvel e viu infinitas mulheres inocentemente recheando os carros à encher os olhos dos que passam? Nem estou falando que é errado, mas apenas provando que existem objetificações curiosamente aceitas; que isso é muito mais explorado nas mulheres e que, feliz ou infelizmente, isso nem sempre é um problema para elas.. Por sermos machistas nunca vimos, por exemplo, uma propaganda de bolsa, sapato ou creme anti-idade feita com um moreno saradão de cueca segurando o produto. Mas já cansamos de ver propagandas de guitarras, motos, carros, barbeadores com mulheres “sensualizando”.
Na real, parece que ninguém se incomoda que elas sejam resumidas a, por exemplo, um enfeite de uma marca “com as tetas de fora” (como diria minha avó). Os homens, porque convém e entretém, e as próprias mulheres, porque parece que sacia um aparente fetiche e carência toda essa masturbação de auto estima.
Enfim.. tudo isso só prova que a gueixa chamou a minha atenção e como os homens são bobos... Se eu estou errado? Espero que sim.
0 comentários: