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Já desde o
Iluminismo francês do século XVIII que o sexo urrava por uma Revolução. Marquês de Sade, por exemplo,
um escritor aristocrata meio maluco, já escrevia sobre a ideia de sentir prazer
sexual na dor (daí o Sadismo, masoquismo e o famoso sadomasoquismo). Chegou até
a ser preso por Napoleão! O tal termo “Revolução Sexual”, mesmo sendo usado
desde 1910, só ganhou força na década de 60’, nas lutas contra o puritanismo da
Guerra Fria e daí em diante não parou mais de ganhar projeção. Com o final das
guerras mundiais as mulheres tornaram-se trabalhadoras assalariadas respeitadas
e essa independência financeira culminou na explosão de debates sobre nudez,
homossexualismo, masturbação e aborto. Mas o marco da Revolução dos anos 60 foi,
sem dúvida, a Pílula anticoncepcional. Foi uma libertação feminina não só de
conceitos, mas também na prática, e é aí que eu queria chegar.
Hoje conseguimos ver
que foram muitos também os legados negativos de toda aquela luta, e talvez o
pior deles foi o consumismo, do outro.
Tornamos as pessoas não apenas um produto, mas um artigo descartável. Um bem
não-durável. Na “euforia da alforria” a
liberdade se confundiu com libertinagem e a promiscuidade sexual passou a ser
socialmente incentivada. A busca insaciável por novas experiências, mais
ousadas e com cada vez mais parceiros casuais cresceu exponencialmente e a esse
comportamento de busca incessante pelo novo, dá-se o nome de Desejo. Conheço pouco de Platão, mas sei
que ele disse assim: “Desejo é o impulso que nos instiga na direção de possuir
algo, ou alguém que não temos”. Você pode ficar feliz por comprar um carro
novo, mas não mais deseja-lo uma vez que você já o possui. Então,
gradativamente aquilo conquistado vai perdendo o poder atrativo, até que você
cansa e passa a desejar outra coisa nova. O Desejo
é “externo”, é visual, tem seus baseamentos galgados na vontade e no momento, na moda e na muitas vezes na autoafirmação. Pra piorar, ouve naquela
época um estouro da pornografia, que foi lentamente padronizando os costumes
íntimos à inconscientes imitações do mundo comercial e fantasioso “erótico” dos
filmes. Me refiro aos gemidos, preferências e principalmente a subserviência
sexual feminina (o filme sempre acaba com o orgasmo masculino, não o feminino.
E virou assim na vida real).
É sob essa lógica superficial
e “rotativa-infinita” de valorização do Desejo (que liberta as mulheres ao
mesmo tempo que desvaloriza) que as gerações seguintes foram,
predominantemente, construindo seus relacionamentos. E esse método é frequentemente
frustrante porque privilegia um estereótipo em detrimento de outro. Existe um
perfil físico (peito, bunda, cabelo) e comportamental (extrovertido, falador) ideal.
O problema é que com o tempo as esposas vão perdendo o bumbum durinho. Os
homens não ostentam mais os vigorosos braços e aquilo tudo vai ficando
desinteressante aos olhos. De repente, tudo o que sobra no parceiro é “ele por
dentro”. Sexualmente, um corpo de muitos anos não é tão convidativo e isso faz
dos parceiros, escolhas cada vez mais provisórias.
Existe saída para
casais que queiram manter o interesse mútuo (também sexual) pela vida toda?
O mais “pop” dos
psicoterapeutas, Dr. Flávio Gikovate, diz que sim, se o relacionamento for firmado
sobre o conceito de Excitação. A
diferença é que, ao contrário do Desejo,
a Excitação é interna. Embora possa ter erupções no corpo, ela é psicológica.
Um casal educado a se excitar pensando no que há dentro do outro, não vira
servo da aparência e inimigo do tempo. Na prática é mais ou menos assim: Não se
instigar sexualmente apenas com o “aparente” do parceiro, mas também “com o que
está passando na cabeça dele naquela hora”. Entende a diferença? É ser livre da
escravidão da novidade. É construir um companheiro excitante no íntimo. É
tornar a mente cúmplice e estimulante. E não é abolir o Desejo, mas se preparar
para quando ele não mais estiver. É tornar o outro, antes de tudo, uma tentação
interna. Porque esta, dificilmente o tempo leva, ainda que o bumbum caia...
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