Do meu poeta preferido, um conselho
“Ao que nada espera, tudo que vem é grato”.
Por muito tempo tentei usar isso para ajudar numa fraqueza minha, Ansiedade.
A ideia era simples: Se o problema é lidar com a Espera, com a Vontade, então, deixar de desejar as coisas com tanta intensidade acabaria com o problema. Tornar-me alguém que “nada espera”, faria de mim alguém feliz com “qualquer coisa que viesse”. Houve até momentos em que eu esperava algo e me aconselharam “não cria expectativa”. Ou mesmo quando recebi uma boa notícia, me disseram “tá, mas para se proteger, nem conta com isso”.
Mas espera, você realmente acha que não tem nada errado nesta lógica?! É isso mesmo?! Acredita que a melhor maneira de lidar com as frustrações é não permitindo que elas aconteçam?! Hoje eu me libertei deste mau vício e não foi nada fácil. Isso porque agora abracei um método mais maduro, porém muitas vezes dolorido: Deixar de me fazer de ninja que desvia das pontudas frustrações, e passar a desenvolver maturidade para enfrenta-las quando acontecerem.
Explico. Viver se privando de grandes expectativas é abrir mão do prazer do “antes”. O nervosismo de antes do beijo, já é o beijo acontecendo aqui dentro. E isso é lindo. Não se permitir gozar de uma ansiedade saudável, por medo, é ser covarde. É empobrecer a vida de tal maneira que não se merece nem a própria vida. O grande lance não é boicotar as frustrações mas sim entender que, a despeito delas, a vida seguirá. E seguirá igualmente boa e inundada num infinito de outras possibilidades! A grande sacada é entender que mesmo que aquilo desse certo e acontecesse, ainda não seria o motivo do sucesso ou fracasso do projeto inteiro. Seja a espera por uma resposta de emprego, a aflição do seu time para se classificar para a Libertadores da América, um grande Amor ou mesmo o seu aniversário... Tudo isso é PARTE, não mais que isso. Os grandes problemas da sua vida não sumirão quando você conseguir em fim comprar o tal carro.
E entendendo isso, eu me faço completo. Não no sentido de autossuficiência, como alguém que não precisa das outras pessoas. -JAMAIS! A vida, assim como o evangelho, é relacional.- Mas no sentido de estar saudável para esperar algo que me transborde, não que me complete. Sendo então eu o maior responsável pela minha felicidade, eu desobrigo os outros dessa pesada tarefa e, mais do que isso, faço de mim mesmo alguém mais leve para recebe-los em minha vida. Dando a proporção certa a tudo, torno-me livre para desfrutar das prazerosas ansiedades que os pequenos acontecimentos do cotidiano me proporcionam. Sem que isso pare o meu dia. E sem que eles, caso não aconteçam, me deixem esburacados. Para quem aprende encontrar boas coisas nos momentos de frustração, a reversão de expectativa vira aprendizado e mais do que isso, “tudo passa a ser importante e único, da maneira como foi”.
Então crie sim expectativas.. Pense em como seria legal se desse certo aquilo.. Imagine as situações.. Curta tudo isso desde o antes. Só não morra se não acontecer. Ansiedade pode ser bonita quando representa seriedade. Inquietação e palpitar do peito pode ser bonito quando representa excitação pelo outro. Agitação pode ser bonita quando precede uma surpresa carinhosa. Nervosismo pode ser bonito nas preliminares de um sorriso.... Mas “não esperar nada para ser grato a qualquer coisa que vier”, aí não. Isso é se contentar com migalhas... Fabrício Carpi Nejar fala que “o que ama sozinho, na ausência de atitude do outro, se contenta com qualquer sinal”... Olha que triste! É como um atleta que entra sem a expectativa de pódio, pois “o que vier será lucro!”. Que lucro pobre é esse? A vida é boa e se contentar com qualquer coisa está fora de questão.
Estou aqui piscando para o texto.
ResponderExcluirCerta vez, usando palavras mais pobres mas seguindo a mesma lógica, dialoguei com um amigo sobre outra linha mas que segue a mesma ideia que vc expôs aqui:
Falávamos sobre rotatividade de relacionamentos - alta rotatividade -, discutimos que quando se deixa estar por tantas pessoas vc acaba por fim perdendo o tesão quando aquela uma chegar. Usamos pessoas pra suprir uma carência que na verdade não é suprida. E, em contraponto, desgastamos o coração, fazendo-o perder a delícia da expectativa.
E, acredito, fazemos isso por medo da frustração de se esperar tanto por algo. Uma fuga, alternativa, prêmio de consolação, que na verdade nos tira o paladar para saborear quando o que for especial chegar.
Obrigada pelo texto.
Que a rotina nos traga ansiedades supridas sem frustrações.