Todas as coisas do mundo se relacionam, e é
normal que haja diferentes níveis de empatia entre elas. Abacaxi se dá melhor
com canela do que com salsinha, Netflix se dá melhor com feriado do que com segunda-feira,
e até os harmônicos secundários fazem com que a nota Ré se relacione melhor com
a nota Lá do que com a nota Sol#. Mas nada se compara ao complexo e curioso
relacionamento entre mulheres. Ou talvez, por ter o acaso me feito homem e heterossexual,
seja eu um pouco mais limitado para entender tal realidade.
O fato é que existe um misto de Intensidade e Fragilidade. Uma bagunça entre Eterno
e Momento. A amizade feminina se equilibra
em algum lugar entre a Entrega e a Posse. A fraternidade feminina é como
uma linda flor extremamente frágil que precisa ser regada todos os dias, ou ela
enfraquece. É tão inexplicável que devia ser classificada como “poema”, simplesmente,
como convém a tudo que é Intenso e ignora a
lógica.
Por vezes, quando duas amigas estão juntas, o
que acontece ali é tão ardente que nasce um sentimento de Cumplicidade Momentânea capaz
de fazê-las falar mal de todas as outras mulheres do mundo. Mas engana-se quem
acha que isso é falsidade ou falta de caráter. Não, no fundo elas podem nem ter
nada contra “aquela outra”. Na verdade, elas estão apenas sendo melhores amigas
do mundo naquela hora, e todo o resto é menor que elas, passível de julgamento.
Naquele instante elas são tudo o que existe e por isso fazem acordos, promessas
e combinam encontros distantes que possivelmente jamais acontecerão. E para
elas tudo bem. Entende? Garotas frequentemente tem fotos de amigas no quarto, na
carteira, no celular. Mas nada disso impede que elas desfiem comentários
pejorativos quando estão com outra. E isso também não quer dizer que elas sejam
falsas. Não, é apenas um dos efeitos da “Cumplicidade
Momentânea Feminina”. Se uma dormir na casa da outra, isso vai acontecer.
Existe também um certo sentimento de “clã”.
Algo como um grupo restrito, seleto, “eleito”, onde apenas as melhores entram.
E não importa a idade, isso muda de nome, formato, mas não de natureza.
Curiosamente, se parte desse grupo se encontra sem avisar ou convidar o todo,
coisas ruins podem acontecer. É como se a amizade fosse desonrada e posta à
prova se isso acontecer. Uma garota que cometer o adultério de sair com outra
sem chamar a terceira integrante do trio, pode gerar um sentimento de deslealdade
e traição. Pode parecer loucura para você, homem que está lendo isso, mas é
quase uma infidelidade postar uma
foto com uma, sem que a outra do grupo soubesse que esse encontro aconteceria. Várias vezes elas se avisam, como quem pede
permissão. Louco, não?
É comum que notícias e convites também tenham
uma ordem hierárquica para acontecerem. Ser a primeira a saber de uma gravidez,
te mantém no pódio. Ter amiga completado um ano de namoro sem que ele te seja
apresentado, faz de você menos amiga.
É normal que elas se cumprimentem com uma certa
“festa” depois de um tempo longe, é normal que elas fiquem abraçadas e efusivas,
mas, curiosamente, nada disso diminui a dificuldade em falar frases como “hoje vou sair com outras amigas”, ou “prefiro amarelo” ou um simples “não”. Tudo parece mais difícil no mundo
feminino. Tudo é mais subjetivo e dúbio entre elas, e tudo tem consequências,
boas ou ruins.
Homens não costumam ter “melhores amigos”. E
tudo bem também. Existem os mais próximos em alguma fase da vida, mas ainda que
outro apareça depois de anos, na verdade é tudo a mesma coisa. Também é incomum
um homem ter um “inimigo”. Talvez nós homens sejamos mais rasos nessa questão.
Ou somente mais simples. Veja só: pensando agora em 5 grandes amigos meus, descobri
que não lembro o nome da namorada de todos, e para falar a verdade nem sei
exatamente qual a profissão de 3 deles. Um deles, o mais antigo, eu nem sei
onde mora. E olha que acho que ainda o encontrarei hoje. Resumindo, se é amigo,
é amigo e ponto. A intensidade não muda com o tempo e não é algo que precisa de
cuidado. Está mais para uma chave que a gente vira, tipo virgindade, batismo ou
catapora.
Provavelmente muitas delas negarão ao ler
isso. Possivelmente usarão a palavra “generalização” para dizer o quão ridículo
é esse texto. Talvez seja mesmo, não passam de observações minhas... Mas eu e
todos os homens do mundo sabemos bem o que ouvimos no carro quando estamos voltando
de uma festa.
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