Essa semana postei no Facebook um vídeo de alunos da escola Senador Humberto Lucena (Paraíba) dançando uma música na abertura de sua Amostra Cultural. Até aí nada de mais, não fosse a dança um FUNK e a música o HINO NACIONAL. Algumas pessoas não entenderam a minha desaprovação, então aqui vai a explicação do meu ponto de vista:
SOBRE HINOS:. Essa história de ter uma música que representa um grupo de pessoas é muito antiga. Já na Idade Média era comum que músicos compusessem letras primeiro encorajando às batalhas, depois celebrando as vitórias. Lá no Oriente, por exemplo, os exércitos também eram precedidos por músicos e seus tambores. Eles eram a linha de frente dos batalhões de guerra (“taikos”, no Japão). Com o tempo essas músicas foram acumulando em seus versos as histórias dos povos e por isso, ganhando muita importância. Olha só que legal:
“Heróis do mar, nobre povo/Nação valente e imortal/Levantai hoje de novo/O esplendor de Portugal!”. Este é o hino de Portugal, um povo culturalmente marítimo, dos mais corajosos da história antiga. Outro: “Esses ferozes soldados?/Vêm eles até nós/Degolar nossos filhos, nossas mulheres/Às armas cidadãos!”. Este é o da França, que embalou as revoluções do século XVIII. Entende o ponto? Muita gente morreu nesses versos, existem séculos de história aqui. Musicalmente digo que o hino brasileiro é o de encadeamento de acordes e intervalos melódicos mais sofisticado que já vi. Enfim, vamos continuar.
SOBRE MANIFESTAÇÕES ARTISTICAS: Eu sei que a Cultura é algo vivo e em constante movimento. Sei que cada tempo e cada grupo de pessoas tem suas formas de expressão. Sei também que a cultura de cada “gueto” deve ser valorizada e que cada um se expressa como pode e quer. Aliás, tenho um projeto cultural que lida exatamente com essas questões (Projeto Ipê Amarelo/Lei Rouanet/13708 no Diário Oficial). Também já vi o hino nacional “repintado” com várias cores e isso nunca me incomodou. João Gilberto em bossa, Hamilton de Holanda em seu bandolim, Fafá de Belém e até o Carlinhos Brown com seus batuques. Mas todos eles tinham algo em comum. Todas essas versões aconteciam com um certo ar de reverencia. Todos me passaram algo de cortesia, mesura, homenagem, emoção.. havia um temor que me fazia entender que “era alguém oferecendo tudo o que tinha, como presente à música de seu povo”. O Thiaguinho e o Péricles já o tocaram em pagode, e com um respeito e elegância emocionantes. O Angra já tocou em heavy metal, e com uma energia e respeito comoventes. Poderia dar centenas de exemplos bons..
O que se passou é que, por algum motivo, rapazes levantando a camisa mostrando a barriga, meninas com as pernas de fora “levantando a perninha” e descendo até o chão.. por algum motivo isso não me convenceu. Não achei bonito. Reconheço até que houve uma ideia de “vamos maneirar galera”, mas não rolou. Vai ver a culpa é minha.. vai ver eu que sou conservador de mais.. Talvez até seja minha “mente poluída” que ligue automaticamente aqueles movimentos inocentes a algo de insinuante, provocante. Sei é que definitivamente o hino nacional não me dá tesão algum. Ele me emociona e gosto de alimentar esse sentimento para com ele. Não quero entrar no mérito do estilo. Não resuma todo meu argumento em “funk é ruim” ou “é preconceito”, pelo amor de Deus, nem tenho mais saco pra isso. Estou falando que existe um “erótico” transbordante nesse estilo (desde sua origem no RJ) que pra mim, não encontra contexto no hino nacional. Mais que isso, seria a última música onde eu o poria em prática (ou melhor, a última seria Ave Maria, de JOHANN S. BACH).
E se nada disso tudo te fez nenhum sentido, aí eu fico mais triste ainda. Porque a última, das últimas, das últimas tradições que poderia ainda manter algum resquício de nacionalismo saudável, bonito, romântico... se acabou em você.
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