Hoje fui desafiado
por um amigo. Ele, um juiz de direito estudado e viajado, é vegetariano há 20
anos. Sim, há mais de duas décadas ele não sabe o que é saborear uma boa
picanha. Mas brincadeiras à parte, ele me contou um pouco da sua rotina e da maneira
como as pessoas encaram sua opção alimentar. Disse que as reações vão desde
brincadeiras engraçadas, passando por palavras ofensivas até chegarem a
argumentos como “você faz mal à economia e ao ecossistema”. Fiquei curioso e
então ele me apresentou seus argumentos: “Não
gosto da ideia de matar um animal, não me acho no direito disso. Sei que as
plantas também são seres vivos, mas a ausência de sistema nervoso não permite
que elas pensem ou sintam dores. Além do mais, fisicamente não me faz falta,
veja, estamos fazendo academia juntos”. Diferente e incomum, mas muito
coerente dentro da lógica e dos conceitos dele.
Mas voltando ao
desafio, ele me disse: “você poderia me
dar ao menos uma razão que justificasse o direito ou a necessidade de ser
carnívoro? E conseguiria fazer isso sem usar o discurso de Superioridade Humana
ou da Necessidade Física?”. Percebi então que esse era um assunto que eu
nunca havia parado para pensar. Vamos lá.
É, realmente à mim
também não agrada muito essa ideia de “o Homem é superior e tudo na Terra
existe para o servir”. Acho isso um pouco prepotente, e vomitar dezenas de
versículos bíblicos também não ajuda em nada. A questão da necessidade física
também é furada. Ele mesmo tem mais massa muscular que eu! (não que eu seja
referencia em músculos, mas poxa.. o cara é vegetariano.. não come proteína
animal!). Pensei em procurar alguma explicação nas teorias de Darwin ou
Lamarck, mas tanto a Seleção Natural quanto o Uso e Desuso não explicam o
motivo de nada, mas apenas as consequências. Perguntei ao meu vô, que sempre
soube tudo, mas ele me falou que comemos carne porque temos dentes próprios
para comer carne. Isso ainda não explicou um motivo, apenas uma consequência...
Procurei bastante e procurei conversar com alguns vegetarianos.
Concluí que ninguém
precisa ser carnívoro. O que acontece é que é difícil não ser. Tudo, os
costumes, as ofertas, as demandas, as tradições.. tudo está estabelecido
pressupondo que é para, até mais que vegetais, comemos carne. Nós marcamos
churrascos de aniversário. Os restaurantes entendem a salada como uma entrada,
nunca como um prato principal. E além de tudo isso, existe sim um certo
preconceito ou insegurança quando se flerta com uma iniciativa apenas verde.
Você se sentiria a vontade chamando seus amigos para jantar em casa e oferecer
apenas pratos de legumes? Sei que é possível e até muito saboroso! Mas a
questão não é essa. Entendo agora que comer carne é um costume de bilhões de
anos. Não uma necessidade, mas uma conduta que se repete indomável como um
tsunami comportamental na linha do tempo, e de tanto tempo, marcou nossos
corpos em sua própria formação fisiológica. Ninguém nem cogita não ser assim!
Eu mesmo... Até porque o contrário, comer a carne, também não faz mal (tudo
exige limites, claro). Pra mim é uma opção. Uma opção difícil de ser levada à
diante, por vários motivos, mas uma opção. Apenas isso, como não escrever com
canetas vermelhas ou não ir a um casamento de branco. É julgar que vale a pena
nadar contra a maré por uma preferencia pessoal. Simples assim.
Agora, começar a
estabelecer uma linha de evolução onde os vegetarianos são mais evoluídos que
os demais... aí já vai me dando no saco...
Por hora, fico com os
prazeres da carne.
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