Minha mãe é uma pessoa diferente. Até pela nossa história, acabamos nos tornando bastante unidos. Confidentes. Na sala, já sangramos diferenças e na calçada já choramos semelhanças. Existem características minhas que as vezes ela pontua, mas não percebe que são traços que devo ter copiado dela mesmo. Quando me descreve fechado e as vezes até aparentemente frio, por exemplo. As vezes ela não é muito de encostar. Seus agrados são muito mais sutis e por isso sempre profundos, característica que copio também.
Aprendo muitas coisas com ela, mas algumas são muito especiais pois revelam muitos conceitos implícitos. Detalhes que só alguém com sensibilidade de pincel consegue não só perceber, mas valorizar. Eternizo aqui algumas.
Comida requentada da refeição anterior, ou mesmo aquela guardada na geladeira deve estar sempre bonita e em recipientes que condigam com sua quantidade. Seja uma omelete feita com as sobras de ontem, seja pegando comida numa fila de self-service o prato deve ser bonito sempre. Respeitar a comida, não abrir mão da reverencia ao sagrado. Não subjugar o que sobra.
Ela tem três fios de cabelo brancos e não deixa que os arranquem por nada nesse mundo. Existe nela uma conscientização misturada com uma tragicômica lamentação que a faz encarar o trem do tempo como um cão na janela do carro aberta, sem a certeza de como será lá na frente, mas com o gosto de que agora está sendo bom e bonito. Ela come grãos e busca uma vida não sedentária. Acho que quando a velhice chegar para ela, a costura da sabedoria com a dependência será não como uma costura à máquina Singer, mas como um bordado feito à mão. Minha mãe não foge do tempo, mas o convida para uma ceia onde anseiam por intimidade.
Quando viajamos ou estamos em lugares inéditos ela não usa óculos escuros. Explica que tem pena de não ver as cores exatas deste novo lugar que se apresenta. Isso, atrelado a incerteza do não-retorno, torna os óculos escuros um risco desnecessário. Entende? As cores... prestar atenção nas cores, fazer questão disso! Paladar, tato, olfato... Entende?
Poderia falar muitas outras. A deferência com a família, a doação do tempo com mesura, a esposa delicada para o marido e tenaz com o mundo, a maneira como prefere amanhecer às janelas abertas...
Também me ensinou que os agrados fora de hora são mais bacanas. Aqui está um meu, pra você.
Minoru, que lindo! Aproveite cada momento da sua vida ao lado desta mulher mãe maravilhosa que você tem. Admiro, entre outras qualidades, sua doçura e sensibilidade. Isso a torna muito especial!
ResponderExcluirParabéns! Te admiro!
Que lindo!
ResponderExcluirQue a sensibilidade sempre permaneça na sua família.