O último samurai

  Hoje estou vivendo um daqueles dias diferentes. Acabo de perder meu bisavô.

De todos os galhos da minha árvore genealógica, apenas ele tinha um lado músico. Acho que vem daí minha afeição especial. Nós o chamamos de “Ditchan”, bisavô em japonês.

  O que acaba de acontecer foi o final de um processo bem cansativo e doloroso que a minha família bravamente enfrentou por um tempo nada curto. Mas o que não esquecerei é a maneira como o Di se portou nesse tempo. Em seus rápidos momentos de lucides, nunca abriu mão de carinho e toque. Gostava de encostar. Nunca parou de fazer piadas mesmo sem conseguir falar. Fazia das luvas de segurança (para não tirar a sonda) suas luvas de boxe e lutava. E a musica.. não importava o quão longe aqueles olhos cada vez mais fechados estavam, sempre reagia a música. Batia as mão e tentava cantar, sempre com um ritmo impecável.

  Fazendo as contas agora vejo o saldo da luta. Reacendi laços com tias e primos que sentia muita falta. Passei momentos incríveis com alguns deles, lavando o carro ou conversando de madrugada, fazendo algum procedimento médico no Di ou cozinhando. Tive uma noite inesquecível com a minha banda. Por não conseguir ir mais em alguns lugares, me afastei de alguns amigos muito queridos. Mas ontem revi muitos deles em uma noite muito importante para mim. Me recarregou. Em especial minha namorada, que mesmo em dias de semana se submetia a poucas horas de sono para não me deixar só cuidando do meu bisa. O Saldo foi infinitamente positivo.

  Existe um código de conduta japonês chamado Bushido (o caminho do guerreiro) , onde são pontuados comportamentos a serem seguidos para se morrer com honra. O Di preencheu todos. Hoje repousa no céu sob alguma cerejeira... Adeus Di, foi minha honra servi-lo.

Suas cinzas serão jogadas amanha em alto mar. 

 

“僕が生まれた


この島の空を


僕はどれくらい


知ってるんだろう


輝く星も

流れる雲も


名前を聞かれても
わからない



でも誰より
誰より

も知っている


悲しい時も

嬉しい時も
何度も見上げていた


この空を”…

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