As pessoas são como as padarias

  De três coisas eu entendo: creme de papaia, filé à parmegiana e padarias. Não sei faze-los ou administra-la, mas sei reconhecer, classificar os tipos e alinha-los numa ordem de critério. Isso me basta. Eu sou bom nisso e percebi que pessoas e padarias tem muito em comum. Ambos nasceram para serem aconchegantes e geralmente o são, no início. 
  Algumas padarias tentam agradar a todos e atender a tudo que alguém possa precisar. Logo se descaracterizam e viram algo que não nasceram para ser. Nem mercado, nem restaurante, nem aconchegante. Muito menos padaria.
  Outras tentam não se prender ao material, ao físico. Viram botecos. Sujos e com azulejos velhos, elas acumulam trôpegos marujos em suas escadas e viram um bar triste, velho e escuro.
  Existem também aquelas pessoas, digo, "padarias" que são muito convidativas! Com aquelas janelas quadriculadas e sempre alguma coisa de trigo em seu letreiro, nos cativam! Mas ao entrarmos vemos que é um acumulado de coisas. Não se pode andar sem esbarrar numa goiabada. Tudo se acumula e se amontoa. Claustrofóbico. São pessoas bonitas e traumatizadas.Com tanta bagunça interna que atrapalham os que querem entrar e se envolver.
  Mas o contrário também existe. São padarias sem belas fachadas onde o pão é bom. Geralmente padarias de bairro, elas chamam as pessoas pelo nome. Servem o pedido antes do pedido! É lindo! São simples, úteis e por isso nos fidelizam.
  Existem também as que parecem perfeitas em tudo mas, erram no pão. Ou pior, as vezes acertam e as vezes erram. São inconstantes! Nunca se sabe quando é “dia de peixe”. Essa é a pior para quem conta com elas. Nunca se sabe quando estacionar ou passar reto. São cansativas e por que são assim vão perdendo lugar com o tempo. Um bom estabelecimento deve ser o mais constante possível. Nossas emoções podem oscilar, mas tudo deve ter seu limite saudável.
  Mas existe um tipo que geralmente dá certo. Aquele em que o dono fica no balcão regendo tudo aquilo, e faz com que as coisas aconteçam. O tal maestro sabe fazer de tudo e não hesita em por a mão na massa. Faz suco de laranja, pão na chapa e fecha as contas apoiando-se no vidro dos salgados. Esta é a padaria com foco. É referência. Existe um guia. Existe um time e um objetivo comum.
Não que eu conheça muitas pessoas ou entenda das teorias do comportamento humano. Mas eu já vi padarias mudarem. E por isso, nunca mais desisti de pessoas.

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2 comentários:

  1. Muito legal.
    Levemente engraçado. Comparação intrigante, mas real.
    Quase um auto-retrato em algumas partes, me esforço para ser uma boa pessoa/padaria...

    Abraço minoru!

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