Fiquei até 2:00 AM assistindo o último
discurso de Barack Obama, no Capitólio Americano. As frases de efeito e a
energia ufanista me faziam tremer. Um jornal da CNN chegou a contar as 43
interrupções no discurso, feitas por aplausos de nomes do estado que se punham
de pé a cada paragrafo. Ali, falando, era o homem mais poderoso do mundo,
comandante do exército mais potente da história da Terra, o líder do manche
político mais influente dentre todos os poderes do planeta. Depois de uma hora
e meia, acabou. Pode imaginar que ele fez imediatamente em seguida?
Quando acabou ele olhou para a única mulher
que ousou vestir algo de cor forte naquela noite, Michelle Obama. Sussurrou “foi bom?”, e ela sorriu e respondeu “foi sim”. Isso deve ter durado uns 3 ou
4 segundos, talvez nem isso, mas eu vi! Pra mim foi a coisa mais marcante do
discurso, assustadoramente surpreendente. Foi elegantemente imprevisível! Foi
de uma nobreza tão grande, digna apenas dos homens mais Homens do mundo. Eu
tremi, e explico.
Diante de uma mulher especial, um homem,
quando é Homem de verdade, coloca-se voluntariamente em certas situações onde
ele se desarma. Naquele instante o homem mais poderoso do mundo se despiu de
todos os seus títulos e conquistas e buscou a aprovação dela. Ali do lado ele
tinha os melhores assessores, a imprensa especializada, outros políticos
experientes, mas com os olhos foi ela que ele buscou e se fez vulnerável,
sujeito à aceitação.
Hoje, por tantos recursos virtuais, os homens
ficaram covardes. Poucos sabem o que é tocar uma campainha, segurando uma flor.
É uma sensação apavorante. Quando eu estou ali, esperando a porta abrir, todos
os meus bens materiais, todas as línguas que eu falo, todos os meus
instrumentos musicais, todas as minhas medalhas, tudo o que pode me dar alguma
segurança não vale de nada, está guardado no fundo de um precipício sem fim.
Sou apenas eu e a porta, que aliás fica gigante neste momento. Nesses segundos
intermináveis o Homem inventa coragem e mesmo assim, não passa de um amontoado
de Vontade e Esperança. Seria Dom Quixote diante de Dulcineia, seria Filipe II
diante de Cleópatra ou Leonidas, rei de Esparta diante da linda Gorgo. Ali,
naqueles quase 5 segundos, ninguém mais é rei de nada, ninguém mais é chefe de
nada e nem dono de nada. Naquele momento só há torcida e silêncio. E mesmo o
Presidente dos Estados Unidos da América não passa disso... Um homem diante de
uma mulher. Gosto de dizer que “na porta
do banheiro feminino, à espera de uma mulher, todos os homens somos iguais”. Ninguém
ali é mais rico que ninguém.. De nada vale o melhor carro estacionado lá fora
ou quanto você levanta no supino...
Entende agora? É preciso ser muito Homem, ser
muito grande, para ter a coragem de fazer tão frágil, por Amor.
Obrigado, Senhor
Presidente.
Escreveste muito bem. Bem no sentido estilístico; bem pela sensibilidade; bem pela análise do olhar de Obama para Michelle. Adorei. Ainda mais quando, ao final, dedicas o que escreveste a Renata Gudin. BRAVO.
ResponderExcluirSimplesmente maravilhoso. Uma sensibilidade incomparável e sincera!!
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