Porque nossas crianças não tocam como as japonesas



  É muito comum vermos pessoas maravilhadas com vídeos de crianças orientais tocando instrumentos musicais de maneira “assustadora”. Mas você já se perguntou “Porque não vejo muito isso por aqui?” ou “Será que eles são mais inteligentes?”. Entenda tudo isso neste breve texto.

  Sem enrolação, vamos direto ao ponto. Nenhuma nacionalidade “produz” crianças mais inteligentes, o que as diferenciam são as oportunidades oferecidas, e aí sim o fator nacionalidade entra na conta, infelizmente. A Ásia está longe de ser um paraíso, mas no quesito educação/metodologia podemos tê-los como referência.  Pare um pouco e pense nas músicas que você aprendeu quando criança. Lembre das melodias que aprendeu nas suas primeiras aulas de instrumento. Preste atenção em quais são as canções que você vê sendo apresentadas ao público infantil. Qual é o repertório escolhido nas escolas para as festas em que os alunos pequenos se apresentam? Desconfia onde eu quero chegar?
  A grande diferença é que existem lugares onde a música é reconhecida com a devida importância -como uma ferramenta que aumenta o número de ligações neurológicas e ajuda no tratamento de síndromes cromossômicas e até Alzheimer-. Nesses países existem professores que se preparam ao invés de lecionarem “música-placebo”, e também as instituições e os pais não aceitam qualquer um para dar aula de algo com tamanho poder de auxílio. Tudo isso gera um trabalho que não subestima a inteligência da criança e que, por isso, oferece uma combinação de informação, repertório e desenvolvimento cognitivo/motor em níveis altíssimos.
  Serei mais didático. Na prática é o seguinte: do outro lado do mundo as crianças de três, quatro anos já estão tendo contato com jazz, música instrumental, Beethoven, orquestras, guitarras, Mozart, partitura... Enquanto isso aqui, seus filhos passam o dia ouvindo a Galinha Pintadinha, na escola aprendem “a dona aranha subiu pela parede”, na aula de música aprendem “dó ré mi fá  fá fá” e no dia das mães cantam uma música do Luan Santana com algum “eu te amo mamãe” em alguma parte da estrofe. Por isso chegam aos 10 anos sem nenhum conhecimento ou evolução muito relevante e quando você vê na internet os resultados lá do Japão, você fica maravilhado. Entende agora o porquê? E não estou falando de judiar das crianças com horas de estudo forçado, não, estou falando de metodologia e consciência. Outro causador do atraso é a defasagem de muitos dos próprios pais por aqui, que nem se interessam pelo assunto. Cultura e música de qualidade, assim como artes plásticas e literatura, nunca foram muito “mainstream” por aqui.
  Sim, existem crianças com mais e menos facilidade. Mas nem o chinês de quatro anos mais inteligente da história tocaria suítes de Bach sozinho, ele precisou no mínimo de um professor para ajudá-lo a entender como a partitura funciona e viabilizar o próprio contato com tal música. No Brasil, quantas crianças estão tendo o mesmo estímulo? Sem contar os erros comuns como inicialização musical com flauta! Devemos entender a flauta como instrumento não-temperado, onde as notas não saem afinadas naturalmente, e por isso não usá-lo na fase em que estamos lidando com a construção de um ouvido-ativo. Já reparou como soa desafinado uma apresentação de escola? Isso acontece por causa da limitação do instrumento.
  O assunto é extenso, por isso deixemos para outros textos. Mas por hora, ao invés de se maravilhar com as crianças do outro lado do mundo, se envergonhe da formação musical das nossas (e dos nossos professores charlatões).

  Fui claro classe?

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