O que é ser “bem sucedido”? (Sobre as brigas com os seus pais)


  Todos procuramos o Sucesso, mas o conceito de “pessoa bem sucedida” vem mudando muito e causando desconforto entre pessoas de gerações diferentes. Vamos nos ater às últimas gerações para entender isso melhor.
  Com o fim das guerras mundiais, um mundo destruído tentava se reerguer economicamente. As pessoas buscavam trabalho e voltaram a ter filhos, o que acarretou um “boom” na taxa de natalidade. A essa geração damos o nome de Baby Boomers, seus avós. Para eles, sobreviver com algum conforto já era por si só uma vitória e simplesmente ter um filho na faculdade já era um grande motivo para se achar bem sucedido. Se alimentar bem era quase uma ostentação e por isso ouvimos sempre histórias do tipo “no meu tempo refrigerante era só no natal”, e fazer carne, peixe e frango, todos na mesma refeição, não os incomoda (muito pelo contrário). Trabalhava-se desde criança e por isso também ouvimos muito “com 14 anos seu vô já dirigia caminhão, cuidava do armazém e alimentava 8 irmãos”. O trabalho não tinha nenhuma ligação com sua personalidade e nem a pretensão de ser prazeroso. A ideia era “faça o que você não gosta para viabilizar o que gosta”.
  E foram essas valentes pessoas que criaram seus pais, denominados Geração X (nascidos em 1960-1980). O mundo aqui já estava melhor e é por isso que seus pais possivelmente conseguiram uma ascensão financeira PROPORCIONAL, em dimensões que você dificilmente conseguirá. Primeiro porque você já nasceu mais rico que eles, e multiplicar isso é então já mais difícil. Segundo que o mercado é muito mais exigente e competitivo hoje. Seus pais viveram inflações inacreditáveis, assistiram charlatões de multidões e viram o Collor pegar dinheiro do nada. Isso gerou traumas como ter grandes dispensas de comida em casa, achar que “tudo é pirâmide”, odiar os bancos... No pós-guerra a prioridade era refazer as construções, reorganizar o controle burocrático e reestabelecer a saúde. Logo, os profissionais que mais enriqueceram foram os engenheiros, advogados e médicos. Por isso muitos pais supervalorizam essas opções: porque eram os que eles mais viram “pro$perar”. Para essa geração, ser bem sucedido provavelmente é algo próximo de 1-acordar cedo 2-trabalhar o dia todo 3-acumular dinheiro 4-comprar uma casa própria. Este último significa muito porque representa segurança pra eles. Trabalhar numa grande empresa e ter uma casa própria com carro na garagem são prioridades de alguém “bem sucedido”. Falar inglês então era uma vitória que exigia muito dinheiro e tempo. Lazer, prazer no trabalho e até a saúde ainda não são grandes prioridades. A ideia aqui é “Quem quer ser bem sucedido trabalha pesado pra enriquecer”.
  Então nasce você, geração Y (1980-2000), com televisão em casa, com lei proibindo trabalho infantil, contando calorias na academia e com um Iphone mais proativo que as 10 pessoas do trabalho do seu pai. Possivelmente você já fala algumas outras línguas e viajar para outro país, embora não seja algo rotineiro, não é nenhum super desafio de vida. Na fase do vestibular você já tem mais conhecimento que um pai de família da década de 50 e a economia te parece relativamente estável. Pra falar a verdade você não morre de ódio dos bancos e até gosta das propagandas do Itaú. Valoriza mais a qualidade de vida do que o acúmulo de dinheiro alucinado e pretende usar a internet para ir a praia sem deixar de trabalhar. A PME diz que 2/3 das profissões do futuro ainda nem foram inventadas, e isso prova como hoje se pode viver bem com profissões como dsigner de games, fotógrafo, blogueiro, músico, estilista, desenhista, professor de caiaque e dono de petshop. De repente você entende viver bem pode ser possível de um jeito prazeroso. Seu trabalho pode estar ligado a sua personalidade e o que era um passatempo pode pagar suas contas. Com o mínimo de educação financeira já é possível ganhar dinheiro sem abrir mão da família, do lazer, da saúde. Agora imagina seus avós vendo você dizer que vai trabalhar com.. lixo reciclável... Aplicativo de celular! Entende? A ideia aqui é "Me permitir alguns agrados e ainda assim não ter ódio da Segunda-Feira me parece algo bem possível"

  Cada geração teve seus desafios, seus medos e traumas. Mas todos querem o melhor para aquele que está chegando e por isso o guiam para o que entendem ser o melhor. E não podemos cometer aqui é o erro de achar que um foi mais fácil ou difícil que outro. Isso porque talvez você não tivesse a malicia do seu avô naquela mercearia, e talvez ele sucumbisse na concorrência dinâmica e internacional de hoje. Você vive em outro tempo, com outros desafios e outras possibilidades. Mas o fato é que todas as rugas devem ser respeitadas, porque até os seus defeitos são lindos..

*A emocionante imagem foi feita pelo fotógrafo Michel Furtado, especialmente para este texto. Obrigado.

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