No final do século
13, entre 1274 e 1281, o povo mais violento da Ásia Central, os Mongóis, estava
dominando o Oriente. Após destruírem a Coreia eles seguiram para o Japão. Eram
quase 23mil guerreiros distribuídos em cerca de 900 embarcações marítimas. Na
costa japonesa, os valentes samurais lutaram como nunca antes, mas eram poucos.
Diante da situação aterrorizante o imperador ordenou que todos os jovens
(meninos) se dirigissem ao litoral para defender a Terra do Sol Nascente. As
mães, trabalhadoras rurais em sua maioria, viram seus filhos ineditamente
empunhando espadas e marchando para o Norte. Numa atitude que só podia ser
materna, prepararam “merendas” para o caminho. Pegas de surpresa, usaram os
ingredientes que tinham e fizeram uma espécie de bolacha à base de trigo, milho
e folhas de laranjeira. E é aí que eu queria chegar.
Aqueles não eram
simples biscoitos, eram as lágrimas de suas mães se “literalizando” em Alimento.
Era tudo que um coração poderia sangrar de Esperança. Havia naqueles biscoitos
um infinito de sentimentos, um amontoado de emoções. Medo, desespero e
tristeza, mas também honra, orgulho e fé. Imagino que deveriam ser embrulhos
Sagrados. Gosto de pensar que eram sagrados, que estavam envoltos em panos
bonitos. Talvez os melhores que elas tivessem. Aqueles eram biscoitos feitos de
Sonhos. Sonhos de que voltassem, e bem! Sonhos de que a guerra acabasse e que a
vida reconstruísse. Sonho que fazia o coração acelerar, a mão tremer e que
transbordava a candura, saindo pelos olhos em salgadas gotas de lágrimas. Deus
do céu... como eu queria experimentar aqueles miúdos..
Eu tenho alguns
alunos e hoje apliquei uma daquelas provas bem difíceis. Daquelas que eu mesmo
temia quando estava no lugar deles. É diferente estar do outro lado. São alunos
que aprendi a amar e a me alegrar na Alegria deles. E porque sei que o acaso
vem num turbilhão de possibilidades e pode nos surpreender quando acordarmos
amanhã, hoje eu senti vontade de orar por eles.
Meus caros meninos,
que a inquietude da juventude não lhes façam perder a fé. Que as incertezas da
batalha que é a vida não lhes esfriem a chama do Sonho. Imagino que as mães
daqueles soldados gostariam muito que eles, ainda que marchando para a luta,
não deixassem de perceberem as flores no caminho. E que seja assim com vocês,
sempre. Que as dificuldades do Crescer não lhes amarguem o caldo. Tenham a
certeza de que todos somos samurais, cada um com as suas guerras pessoais, e
que mais precioso que a vitória é a Honra. Sempre digo à vocês que “vocês não podem se contentar apenas com
resultados positivos, mas que devem fazer questão de que a história seja
bonita”. Não esqueçam disso! Então, estabeleçam um objetivo na Vida e
marchem! Ainda que o Sonho mude a cada dia, a vida só é Vida quando se está
marchando com propósito. Aprendam a usar suas espadas e a valorizar os
biscoitos...
Então, depois da
prova, fomos para a escada dar uma relaxada e recuperar o fôlego. Eu tirei da
mochila um pacote de Sembei, que é a variação atual daquela antiga receita japonesa.
Contei a história (me segurando para não chorar) e fomos passando o saco.
Comemos ali mesmo, na escada, e foi bonito assim. Havia algo de Sagrado, pra
mim.
Termino agora
respondendo a pergunta que vocês me fizeram enquanto eu saía: Sim, o Japão
ganhou aquela guerra. Na inesquecível primavera de 1281, os valentes samurais,
em número absurdamente menor, expulsaram os Mongóis. Eles, xintoístas
fervorosos, acreditam que foi graças aos Deuses da Terra, do Fogo e do Vento.
Juram que foram os ancestrais que controlaram a força do mar. Mas.. me digam,
meu meninos.. nós sabemos qual foi o segredo. Não sabemos?
Minoru, a cada dia mais surpreendente! Parabéns!!!!
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