Vejo muitas pessoas
reclamando da burocracia que existe
no Brasil. Basta tentar tirar um passaporte, a segunda via de um documento ou
querer abrir uma empresa, que você certamente entenderá o que eu estou falando.
São horas de filas e uma mão cheia de papelada, fotos 3X4, comprovantes de
residência, de renda e carimbos. Parece uma gincana. Para tentar aliviar este
martírio nasce o famoso e ovacionado Poupatempo, dito por uns até como “marca da modernização e organização do
Estado. Avanço!”. Mas vamos dar uma volta pelo mundo e tentar entender
melhor isso.
Certa vez, numa
grande cidade da China, fui comprar um jornal. Basicamente funcionava assim:
havia uma pilha deles e uma cestinha com dinheiro ao lado. Eu depositava minhas
moedas na cesta e então pegava um jornal. Se necessário troco, eu mesmo o
faria. No Brasil, esse método não funcionaria pois, obviamente, em poucos
minutos roubariam todo o dinheiro da cestinha. Para resolver este problema
alguém teve uma solução eficaz: manter um funcionário perto dos jornais. Ele
tomaria conta dos jornais e também seria responsável pelos trocos. Nasceu a banca de jornais e o jornaleiro.
Vamos à outro
exemplo.
Na Suécia, todo o
processo para se tirar uma carteira de motorista pode levar apenas 3h. Lá não é
obrigatório fazer o curso da auto-escola, por isso, se aprender a dirigir com o
seu pai, por exemplo, basta fazer uma avaliação rápida com um responsável, e
pronto, sua permissão para dirigir está validada! Já no Brasil isso não seria
possível porque as pessoas provavelmente iriam querer logo as suas permissões,
independente de estarem aptas ou não. Mais uma vez alguém pensou em uma
solução: fazer cursos de 3 dias, e estes então obrigatórios. Mas isso ainda
assim não daria certo pois a maioria das pessoas que não conseguissem aprender
bem, dificilmente se inscreveriam para fazer o curso novamente. Por isso, o
curso foi estendido formando uma semana. Mas nessa semana de aula muitos alunos
começariam a faltar nas aulas teórica, pois apenas valorizam as práticas. Mais
uma vez houve mudança. Agora seriam duas semanas, assim, a primeira seria
apenas teórica e não teria como os alunos cabularem. Mas... os alunos começaram
a chegar atrasados demais e saírem mais cedo. Eles assinavam a presença e iam
embora. Por isso, outra adaptação: as assinaturas biométricas. Agora os alunos,
na chegada e na saída, colocavam suas digitais num registro de presença
diretamente do Detran, via internet. Foi aí que os alunos começaram a, literalmente,
comprar as permissões. Não parou por aí...
Hoje todo este
processo pode passar de um mês e milhares de reais. Fora isso, a má qualidade
dos motoristas exige um maior controle e aplicação de multas de infrações. Por
sua vez isso gera mais burocracia nas renovações de IPVA e Licenciamento. É uma
bola de neve assustadora e infeliz. É como se, devido ao nosso mal
comportamento, nossa palavra valesse cada vez menos no Brasil. Na época do meu
avô muitos acordos eram verbais,
depois passou-se a exigir assinatura.
Hoje nem essa basta, é necessário um reconhecimento
de firma. As vezes até alguma certidão,
e outras vezes até certidão de inteiro
teor! Não tem fim!
Entendem agora como
surge a burocracia? Entende que
temos, todos, parte nisso? Aceito que nem todos nós somos desses que roubam as
moedas da cestinha dos jornais, mas daí até falar que o Poupatempo marca uma
evolução?! Francamente, é exatamente o oposto! Evolução seria ele não ser mais
necessário.
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