Mania de discordar


 Ter uma visão crítica, ser ponderado nos impulsos, arrazoar os argumentos, pesar friamente uma situação... Todas essas são características esperadas em alguém minimamente equilibrado e que já tenha idade para ter uma assinatura ou assistir Harry Potter no cinema sem os pais. Mas existe um tipo curioso de pessoa, extremamente participativa nas conversas, que por vezes me tira do sério. São os “do-contra-patológicos”.
  Quem nunca esteve perdido e, quando ninguém teve coragem de assumir um palpite, você tomou a atitude e virou à segunda esquerda. Mas quando entrou ouviu “acho que não é por aqui hem”? Quem nunca se deparou com um cardápio de um restaurante diferente e tendo que fazer uma escolha às cegas, ouviu “não sei se este é bom hem”? Quem nunca se irritou quando estava empolgado expondo uma ideia (que demorou muito para construir) e ouviu pequenos comentários contrários sem nenhum fundamento ou justificativa, feitos por pessoas que nunca nem mesmo pensaram à respeito? Aí você elegantemente devolve “Mas você tem alguma outra sugestão? “, “Baseado em que você acha isso?” ou “Você pode me ensinar algo em relação a isso para me ajudar?”. Após o silêncio que vem, eu termino com um “Ué?!”, e as pessoas me acham grosso!
-Vou investir nisso! Olha só que interessante o que eu pesquisei!
-Olha lá hem.. Não sei não..
-Me pareceu bom. Mas você sabe algo negativo sobre isso?!
-Não. Só não sei não...
  Entende?! Parece que é mais para participar mesmo! Pra irritar! É como reclamar do sabor da pizza que você comprou, mas quando você perguntou antes de comprar, o cidadão: “sei lá..” ou “não sei..” Porra! Entende meu ponto?! Jovens ou velhos, todos nós precisamos de pessoas que nos ajudem acrescentando parâmetros. Ninguém sabe tudo. Mas existe em alguns, um comportamento quase involuntário de discordar. É quase um reflexo! A pessoa parece que já te ouve procurando onde pode encaixar um comentário oposto, quando você parar de falar. Por algum motivo elas pensam que isso às confere um certo ar de responsabilidade, amadurecimento, maturidade, lucidez...
  Continuo.
  Em meio ao conformismo total, você se dispõe pelo bem comum, ou pelo menos tenta (porque também não somos mártires. Todos temos nossas preguiças). Ninguém quer sair no meio do filme, ou pesquisar os preços dos hotéis, ou sair para comprar a comida, ou tentar mudar o curso de uma vida medíocre com um novo projeto, ou parar um pouco para ter alguma ideia nova que torne a existência menos irrelevante... E quando você tenta, tem que aguentar um:
-Mas não é assim simples. Tem que ver um monte de coisas antes.
-...É? O que?
-Ah meu, não é assim. Tem os riscos..
-...É? Quais?
-Ah um monte. Você já foi pesquisar?
-...Já, e você? Sugere outra maneira?
-Nossa! Calma, tô só falando! Grosso..
  Pior ainda quando é no passado. “Ai, se tivéssemos feito daquele jeito”, “Porque comprou este?”, “Tínhamos que ter virado lá atrás”, “ah, mas de quatro queijos não”, “Sabia que isso podia dar errado”... Aí é “pacabá”...
Na boa, hoje eu tô puto.


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Um comentário:

  1. Na boa, hoje eu tô puta. E não é pelo fato de alguém discordar de mim...
    Mas concordo com o texto. O Fato é outro. Mas a sensação de estar puto, é a mesma.

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