Gosto: do latim gustu; critério; faculdade de sentir e apreciar o belo; graça e elegância; satisfação, é o que diz o Michaelis. Sim, mas “critérios” enraizados em que pressupostos? Como assim apreciar o “belo”? –não vou me perder nas discussões gregas- “Elegância”? A China me ressignificou este conceito. “Satisfação”, até onde? Pioremos: E bom gosto então? “Ele tem mau gosto”.
Venho pensando nisso há algum tempo e encontrei uma saída que me satisfez. “Não existe bom ou mau gosto, mas sim ter ou não ter gosto”. Explico.
Se eu fosse comprar um avião ou um jogo de panelas para fazer paella espanhola; se eu fosse comprar um quadro de arte cubista; se fosse encarregado de escolher os talheres de um jantar real, se fosse minha a responsabilidade de remendar um vestido de noiva, eleger o vencedor de um campeonato de orquídeas. Eu, seria, uma, derrota. Porque eu tenho mau gosto? Não. Mas porque não vivi experiências elementares suficientes para me munirem de parâmetros razoáveis. Não vivi, não experimentei, não entrou em mim. Não tenho mau gosto, eu não tenho gosto.
Agora imagine se alguém me pedisse para escolher um baixo para um aluno; se eu tivesse que selecionar as músicas para uma formatura ou uma entre três opções de mousse de maracujá. Me imagine na posição de jurado num concurso de filés à parmegiana. -Aqui entre nós, não há nada sobre filés à parmegiana que eu não saiba (!)-. Entende meu ponto? Nesses últimos exemplos eu já me sujei, rolei, errei, passei vergonha e muito do que alguém precisa sofrer para acumular o mínimo passável. As marcas de bolhas nos meus dedos me dão autoridade para expor minha opinião sobre um baixista, mas não para um leilão de cavalos.
Gosto é a construção acumulativa de parâmetros que legitimam um juízo de valor relevante. É o filho empírico do cotidiano, é o lado bom do calo. Gosto é a recompensa de quem viveu a semirreta do tempo prestando atenção nas cores, gozando os cheiros e se lambuzando nos sabores, por vezes ruins. Só tem gosto quem realmente sangrou nas canchas e consciente, as avaliou no travesseiro. Quem criou gosto se familiarizou tanto que se derrete nas nuances, grita nos detalhes e faz questão dos pormenores.
Lindo, demorado e humano, por isso celeste.
Essas são as minhas primeiras melancias. São gostosas e lambusantes as melancias. Gosto delas.
Tetelestai.
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