Quando você ouve uma música, não fica ansioso
para saber como é o final dela pois o prazer está no ouvir. Quando alguém
dança, não existe um lugar do salão onde ela almeja chegar ao final da
música, pois o prazer está no “dançar”. Quem come um delicioso prato, jamais
pensa em como será vazio o prato finalizado. O prazer está no durante. A beleza
se apresenta é no trajeto, nem no começo, nem no final. Quem passeia de mãos
dadas com o filho não fica pensando na outra margem do lago, pois a alegria já está
bem ao seu lado. Quem beija não fica pensando em como o beijo vai terminar, mas
ao contrário, fecha os olhos e se demora ali. Aliás esta é a principal diretriz
do sexo tântrico: tirar o foco do orgasmo e valorizar o “durante”. Assim também
são os poemas, que nos prendem pelo “durante”, raramente pelo final. Não é
característica dos poemas terem finais de efeito. O seu efeito vem acontecendo
na caminhada dos olhos pelas linhas. Aprendi que Guimarães chamava isso de
“Travessia”, e dizia que era nela que aconteciam os processos mais bonitos.
Eu não estou pregando a irresponsabilidade
com o futuro. Quem me conhece sabe que eu tenho tudo em Excel, tabelas e
projeções, e que minha parede tem gráficos. Mas eu lamento que as vezes, por queremos
tanto ter o controle de tudo, reduzimos as possibilidades da felicidade. Nossa
vida fica menor porque não aguentamos “não ter certeza”. Nossa ansiedade em
querer tudo sempre pronto e decidido o mais rápido possível faz com que nós
abreviemos os processos de amadurecimento. Por
isso as pessoas gastam tanto com videntes enquanto poderiam gastar com
coaching. Optamos por concluir imediatamente, saber logo, resolver rápido e
terminar agora... então não vivemos.
Nos iludimos achando que isso é “evolução”,
mas esquecemos que abreviar os processos da vida nos impede inclusive de errar.
Acontece que “enganar-se” é talvez o maior dos gatilhos para o aprendizado.
Países como o Canadá que tem, teoricamente, a vida com alto índice de segurança
profissional, financeiro e político, também tem dos maiores índices de
suicídios. Já ouviu falar que “mar calmo
nunca fez bom marinheiro”? Então.. processos de evolução pressupõem
aventuras, acertos e erros. Um dia escrevi uma música com a frase: “Vem, e divide comigo a beleza de não ter
certeza”. Foi meu convite para uma pessoa experimentar comigo a fantástica
experiência de olhar para um infinito de possibilidades belas, e construirmos juntos
a vida que bem sonhássemos.. Gosto de uma frase do Proust que é assim: “A felicidade é saudável apenas para o
corpo, pois é a tristeza que desenvolve as forças do espírito”. E a minha
mãe resumiu na melhor maneira “Não tenha
medo de chorar..”. Não estou falando para ninguém aqui virar “emo”, mas
incentivo com todo meu coração que tentemos viver mais à moda dos poemas, das
músicas, dos passeios de mãos dadas, dos beijos e das belas refeições... apreciando
“a beleza de estar indo”...
Super agree with Prost.
ResponderExcluirA tristeza, mágoa e decepção somente nos tornam mais sábios e os momentos felizes somente são valorizados por sabermos como são os tristes.
Curta o momento, ele é breve... mas não sofra por antecipação, tudo acaba...mas sempre há um recomeço!
Tati Casoria