Os novos ricos, os velhos ricos e os pseudo-novos-ricos.



Não dá pra ser taxativo afirmando que o que vou dizer é regra, mas essa minha teoria vem me assustando com a sua recorrência. Tinha tudo para não ser assim, mas na prática parece que é. Me ajudem a tentar explicar o porquê.
Já conheceram alguém que começa a estudar gastronomia e então passa a desaprovar todas as comidas caseiras? E já perceberam que depois de formado ou consolidado na profissão, ele volta a gostar das comidas simples? Já conheceram um estudante de música que ao conhecer o jazz, deixa de gostar do Raul Seixas e passa a ouvir só coisas “difíceis”, tortas, com muitas notas, e depois de publicamente reconhecido como um bom músico, volta atrás e se permite tocar rock com poucas notas? Enfim, isso pode se aplicar em infinitas outras áreas. Moda, arquitetura, letras, publicidade, direito.. A questão é: Quando alguém passa a ter condições de apreciar experiências mais requintadas, elas frequentemente, numa fase inicial, tendem a negar a qualidade do que é “popular” e comum. Pior ainda, desvalorizam qualquer comentário feito por alguém não acadêmico na área, como se não houvesse sabedoria popular. Porém, passado o estágio de autoafirmação, elas se permitem voltar. Isso passa a ser até bem visto. Quantos programas de televisão não mostram grandes chefes de cozinha aprendendo com senhoras donas de casa?
E essa teoria fica muito evidente quando o assunto é dinheiro. Por exemplo: Os não-ricos não tem problema em “farofar” na praia. Não veem problema em saírem de bermuda velha e chinelo. Compram refrigerantes de marcas alternativas e, sem nenhuma dificuldade, sempre dão “jeitinhos” para viabilizar alguma vontade. Ok, até acontecer de enriquecerem e entrarem para o time dos novos ricos (economicamente este é um termo para designar a parcela da população que conquistou uma mudança positiva na renda financeira e ascendeu a classes econômicas superiores, há menos de duas gerações). Aqui, assim como nos exemplos lá do começo, as pessoas tendem a negar os costumes anteriores, à todo custo! Frequentemente tornam-se chatas, exigentes e excessivamente críticas com a comida, com as roupas, com as decorações, com os comportamentos, com o conforto, com as cores, com as bebidas, com o garçom, com as temperaturas dos lugares, com seus direitos, com os funcionários, com o tempo que as coisas levam, com o barulho... Desandam a serem pessoas difíceis de agradar. Nada está bom, nunca. Da balconista da loja, ao recheio dos bolos...
Alguns (poucos) desses conseguem manter a ascensão financeira e depois de algumas décadas tornam-se velhos ricos (por volta de 4 ou 5 gerações depois). É agora que a coisa fica superinteressante e surpreendente. Contrariando a lógica, esses são mais “fáceis” que seus antecessores. Não, não fizeram votos de pobreza, óbvio! Não estou falando que negam o dinheiro ou seus benefícios e experiências. Mas é como se aquela necessidade de autoafirmação agora fosse desnecessária e, de repente, a discrição passa até a ser interessante. E porque saíram da “puberdade da autoestima financeira”, eles se permitem coisas normais e comuns com mais facilidade. É a diferença entre os funkeiros-ostentação e a família Ermírio de Morais, entre os vencedores do BBB e os Matarazzo. Você não vê nenhum Bittencourt queimando notas de 50,00 para acender charutos como os novos ricos das festas de Jurerê Internacional. Claro que existem pontos fora da curva como Narcisa Tamborindeguy, mas realmente vejo que o padrão é outro. E prova disso é que, segundo a Forbes, a maioria avassaladora das famílias mais ricas do país é desconhecida. O cara mais rico que conheci na vida, foi quem me ensinou a dar nó em gravata enquanto me levava para comer pastel na feira do Pacaembu. De chinelo. Ele fazia contratos internacionais em 4 línguas e acredite, não tinha um Iphone...
Ah! Existem também os pseudo-novos-ricos, que não enriqueceram, só são chatos mesmo.
Eu nem sei como terminar este texto porque ainda é algo que estou digerindo e construindo, porque você acha que isso acontece?

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Um comentário:

  1. Prezado Minoru, acho que tenho uma possível via de análise: a própria internet... O acesso ao google tem feito com que as pessoas consigam cada vez mais gerar um híbrido entre o ter o ser, simplesmente "pare-ser" (ou seja,sentirem-se emparelhados com quem realmente É). Então existe um acesso virtual ao "requintado" e "sofisticado", que permite a fabricação em série desses veradeiros chatos de plantão... Abraço!

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