Optar pela carreira da Arte não é fazer voto
de pobreza. Viver da música não significa, obrigatoriamente, ter de fazer a
famosa (e burra) escolha entre “tocar música de qualidade e ser pobre”
ou “me vender para o mercado para ter
algum dinheiro”. Definitivamente, não. Por optar por esse caminho e querer
ter nessa paixão a minha fonte de renda, pesquisei muito, errei muito e cheguei
a algumas conclusões. Meu método foi: ousar agrupar e definir os tipos de músicos
que eu conheci até hoje, então analisa-los para traçar a minha própria estratégia.
Sem muito mistério, já adianto que o músico
que não leva uma vida medíocre, quase que por uma regra apresenta um
comportamento minimamente empreendedor.
Ele entende que precisa saber lidar com
qualquer coisa além do seu instrumento. Projetos culturais, produção, leis
de incentivo, Marketing, PROAC, gerenciamento de aulas (em
instituições, ou particulares, mas sem ser "amador"), caminhos acadêmicos.. Enfim, alguma outra coisa. Ser um bom
instrumentista não é mais suficiente, é só o básico. É preciso muito mais que
isso e para ser objetivo, eu resumi em tópicos as necessidades de alguém nesta
situação.
-Planejar o futuro. Ter uma previdência privada, saber lidar com o dinheiro como gente grande. Saber guardar. Conhecer opções de investimento (renda fixa ou variável).
-Planejar o futuro. Ter uma previdência privada, saber lidar com o dinheiro como gente grande. Saber guardar. Conhecer opções de investimento (renda fixa ou variável).
- Não ter apenas uma única fonte e renda. Esse é
um erro comum, mas para entender basta pensar 5 minutos. A música oferece
muitas opções, use-as! Projetos pelo PROAC são exemplos de que um músico pode
fazer o que gosta, como gosta e ganhando dignamente. Percebi que a ignorância
no assunto gera muitos comentários desconexos da realidade.
-Decidir se vai querer casar e ter uma família.
Isso já peneira algumas vertentes que podem não te trazer o futuro que sonha. Você
não terá pique para tocar na noite quando tiver 50 anos e talvez seja tarde
para inicial em outro ramo. Ex: Não dá pra tocar a vida inteira em cruzeiros e querer se aposentar como músico de estúdio. Nade desde já para onde você quer chegar.
-Entender que seu dinheiro vem de uma mínima
capacidade física. Não precisa virar padre nem atleta, mas bebida e outras
coisas já arruinaram alguns amigos muito bons no que faziam.
Entendendo
isso, fica muito fácil definir alguns tipos de músico.
- O Sem Noção: Ele não tem noção nenhuma de como funciona o mercado da área. Geralmente tem uma banda com os amigos e sonha em ser famoso e tocar na Jovem Pan. Não investe nada em Produção ou Escritório (texto anterior), ao invés disso pede oportunidade em aniversários de amigos, bares e churrascos. É legal, rende garotas e cervejas... mas não paga contas. Até aí tudo bem, até deixar de ser uma brincadeira e eles largarem os empregos em prol deste caminho camicase.
- O da Noite: Ele teria tudo para dar certo, e até dá, mas por um tempo. Toca em grandes bares e faz shows, acompanha cantores conhecidos, ganha algum dinheiro e até aparece na Tv. O grande problema é que facilmente acha que “está bem na fita”. É aí que não pensa no futuro, não guarda dinheiro, não investe, não programa nada e gasta tudo o que ganha. Não pensa que quando tiver filhos e for velho, não aguentará mais chegar em casa às 3h da manhã... Andar com pessoas famosas só endossa esta armadilha. (nestes são frequente certos problemas conjugais. Coincidência curiosa)
- O de Estúdio: É uma ótima opção e abre oportunidades em várias áreas até de Marketing. O principal risco é deixar de ver a luz do dia. Frequentemente se submetem a jornadas absurdas de trabalho que vão matando aos poucos. O ganho pode não valer a pena. Aqui o músico é um operário técnico.
- O Músico de Músicos: Ele bate o pé e se recusa a tocar qualquer coisa “comercial”. Tal radicalismo vai lentamente o confinando a um público “super-entendido” no assunto, mas cada vez menor.. Ele estuda horas, pra tocar pra ninguém. Ganhando nada. Diz que não liga pro dinheiro, mas por dentro está desesperado.
- O Acadêmico: Se preparar para dar aulas em faculdades leva muito tempo, dinheiro e trabalho, mas pode ser muito legal e trazer reconhecimento na área. Essa opção pode trazer retorno financeiro. O GRANDE perigo é o giz levar a música embora... e você virar músico de lousa. É gosto.
- O Mega-Empreendendor: Ele foca tanto em ganhar dinheiro, que esquece a arte. Ele vira amante dos números, ao invés das notas. É muito comum ele perder a amizade dos amigos músicos.
- O Famoso, Mesmo: Aqui a dica é sair das aulas de música e pegar firme na academia. Vale lembrar que sem MUITO dinheiro investido em produção e exposição, nada feito. Seu gosto pessoal também tem de ser BEM flexível. O que manda aqui é o mercado. Mais uma vez, é gosto. Tendo muito dinheiro, dá. É uma rifa bem cara.
Agora eu entendo que não existe uma fórmula
mágica. O desafio é o previsível Equilíbrio. Mas o importante é que eu vi que
existem maneiras de se viver com dignidade, sendo músico. Viver ao invés de apenas Sobreviver.
Poder viajar, conhecer outros países, ter um computador bom, um carro em ordem, dar bons
estudos aos filhos, ter férias, lazer, comer bem, ter uma casa confortável...
Reparem que não me refiro a ostentação ou superficialidades. Eu me refiro a
Dignidade. Não ficar perguntando qual a operadora do outro antes de ligar,
poder entender o que a televisão diz, sem chiados, ir a um bom médico, se
aposentar em paz... É possível. Basta o músico entender que ele também precisa
amadurecer em outras áreas. E isso não te afastará da música! Dizer isso é não
entender nada. É exatamente o oposto. É isso que permitirá que a música não se
vá... Sem
educação financeira, maturidade e plano de carreira, qualquer gigante das
partituras morrerá frustrado e pobre. E o pior, maldizendo a música.
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