Partindo do
pressuposto que homem de verdade não se esconde atrás de um computador ou
mensagem de celular, entendemos que o primeiro
encontro é decisivo. Assustadoramente imprevisível e deliciosamente brega.
Aliás, nada mais brega e lindo que um homem tocando a campainha de uma mulher.
Nada mais corajoso que o desconforto de espera-la na sala, numa conversa de
mentira com seus pais, tratando superficialmente qualquer assunto corriqueiro
como se fosse a grande manchete do dia. Até que ela desce, linda, para a
redenção da humanidade...
Desculpe; voltando
ao primeiro encontro, a insegurança
pode ser abalada por várias coisas e acredito ser o O Silêncio a mais
ameaçadora delas. Deus do céu, quem já passou por isso sabe o abismo que cabe
no hiato de 5 segundos que existe enquanto se engole um pouco de guaraná ou se
mastiga uma mordida do lanche! “Porque coloquei tudo isso na boca!? Jesus, suma
com essa carne que não para de crescer!” eu já pensei. A falta de fala é cruel
e debochada, faz pirraça e brinca de inventar dúvidas contra nossas bochechas
rosadas.
Gosto dessas cenas
nos filmes. Acho graça no desajeito de dois que se rodeiam por dentro enquanto
gaguejam por fora preenchendo a linha do tempo. O homem, sempre “orgulhoso e
seguro de si”, faz graça para aquela com semblante de “desejada”. Mas o tempo
vai passando e os tais momentos calados vão se metamorfoseando.
Existe uma fase,
geralmente nos casais mais jovens, onde o emudecimento é entendido como desdém.
“Ele não falou comigo hoje”, “ela não respondeu meu boa-noite ainda”, “Eu vou mais atrás dele do que ele de mim”.
Suspeito que tudo isso não passe de insegurança. Se sentir em paz no silêncio à
dois só é possível quando nos entendemos Desejáveis aos outros e quando
realmente acreditamos que é a nós que o outro deseja. Só e tão somente resolvidos
estes dois pontos é que conseguimos entender que não receber nenhuma mensagem até as 15h da tarde pode apenas
representar que não aconteceu nada até as
15h que gerasse interesse para ser dito. E isso não tem nada a ver com
desdém! Parece até bobo e óbvio sendo dito assim, mas quem já sustentou um relacionamento
para além do carnaval, sabe do que estou falando.
Gosto de ter o
silêncio como um bom parâmetro acerca da evolução de um relacionamento. Tal
quietude amadurece com o caminhar de mãos dadas. As conversas não vão acabando,
mas são as falas que vão sendo menos indispensáveis. Os olhares dizem por si e
o riso também denuncia o que acontece lá dentro. E existem ainda os momentos
onde literalmente nada está sendo dito. O semblante está em trégua e tudo cala.
Aí também deve ecoar o repouso. “Agora estamos quietos e juntos, só”, não há
nada nas entrelinhas e isso não é um problema. Ficar à vontade para estar quieto a dois pode ser um grande sinal
de cumplicidade e segurança. E incluo nisso o “junto, à distância” também.
Conheço casais
maduros que viajam horas apenas olhando a estrada. Eu, um atrapalhado fruto
verde, já penso que o clima está tenso e aquilo vai crescendo em mim até que de
repente! (...) A mão dela se espreguiça sobre a coxa dele que dirige. Todo
aquele tempo estava tudo bem. Estavam em paz, eu que não atingi o nível. A
maneira como um lida com o outro diariamente afugenta as inseguranças e permite
o não-falar. É aí que a obrigação de dar “boa noite” todos os dias torna-se
infantil e deselegante.
Mesmo sendo músico e
trabalhando com sons, aprecio os compassos em branco. Nesses, hoje tenho paz
para levantar velas e navegar à deriva, com alguém, numa tarde fresca e
inundada de pausas de semínimas e colcheias.
É isso o que eu sempre quis dizer. Lindo, Mi.
ResponderExcluirValei por ler Silinhas!
ResponderExcluirMinoro é isso mesmo e só o tal do tempo nos ensina. Forte abraço.
ResponderExcluirAMEI!
ResponderExcluirCada dia tenho admirado mais os compassos de pausa.......coisa de músico, sei lá!
É sempre uma honra te ter aqui tenente Melo, meu pai no nordeste...
ResponderExcluirMarcela, é exatamente isso!
ResponderExcluirBelo!
ResponderExcluirSurpreendente como sempre querido Primo. Sou sua Fã.
ResponderExcluirMuito bom, Minouro....muitas verdades são ditas só pelo olhar!!!!
ResponderExcluirNossa, me emocionou... muito lindo! Linda foto tb!
ResponderExcluirQuando as palavras não são necessárias, aí está a revelação da cumplicidade. Belo texto, amigo!
ResponderExcluirMuito bom!
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