O Segredo da Felicidade


 
Hambúrguer, andar de moto, suco de maracujá, salada de macarrão, baixo acústico, salame com limão, dirigir na estrada conversando com a minha namorada, livros, ler a história de um bom vinho antes de bebe-lo, andar de skate elétrico, ir para Piracicaba... Todas estas coisas me dão muito prazer.
  A filosofia e a psicologia já nos ensinaram que Felicidade não é uma condição ou uma constante, mas uma situação momentânea, um ocorrido, um período mental segmentado (assim como as outras sensações). Costumamos dizer que somos felizes, mas seria mais cabido dizer que estamos felizes. E de maneira alguma eu quero diminuir este estado, ao contrário, quero entende-lo para aumentar ainda mais sua recorrência.
  Para que o hambúrguer me dê prazer, tenho que ter a fome, que vem do não-comer. Para que o suco me refresque, preciso da sede, que vem do não-beber. Para o som do baixo me envolver apaixonado, preciso do silêncio do não-som. Podemos entender então que a carência é o principal requisito para identificar a fartura, para que valorizemos e possamos entender o abastecimento como uma benção. A quem nunca faltou o pão, o café da manhã torna-se, com mais facilidade, corriqueiro. Mas o mesmo acontece com quem, ainda que tenha passado fome, passe a ter fartura por longos anos. A música só existe por conta das lacunas do silêncio...
  A constância nos estraga. Não por má fé, mas porque a frequência nos afasta da carência. A recorrente oferta diminui o privilégio da falta. Semana passada o Dr. Drauzio Varella explicava os riscos de se tomar muitos copos d’agua sem parar. Vemos na obesidade os males de se comer incessantemente. Até um Super-Toscano premiado em Praga embebeda se tomado sem intervalos. A liberdade sem os limites que a poda, torna-se libertinagem. A vaidade sem descanso torna-se rotina. As notas sem pausas tornam-se ruídos. A cíclica-preferência torna-se escravidão.
  Onde quero chegar?
  Entendi que devo ter prazer também no não-ter. Percebi que a carência dos dias cinzas me potencializa a Amar. Lembrei que por saber que um dia perderei os meus, corro para sentar à mesa com eles. Re-sinto aquele gosto de chegar em casa após a viajem. Limpar algo e redescobrir aquela antiga beleza; e se reapaixonar por este algo! Reconstruir! A glória de reconstruir algo!
  Vejo no casamento de décadas dos meus avós, o flerte com a distância, com a abstinência, com os hiatos, com a escassez voluntária e passageira, com o charme... Tudo alimenta o Eterno. Pois até este é feito de pequenos fins e começos. Mais instigante que um presente, é um presente embrulhado, pois NÃO SABEMOS o que está lá dentro. Não saber, não ter, não conhecer... A excitação de uma caixa misteriosa... O desejo é excitante porque, elegantemente, judia da falta. Tenha mais prazer na falta. Pobre daquele que tem tudo, pois não conhecerá a vizinha que lhe emprestaria uma xícara de açúcar.
  Termino hoje, assim, com um texto SEM final. Pois sei que isso é todo o necessário para que surja um terreno fértil a cada um que o ler.  

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