Ok, “o sapo não lava
o pé” é o que falam. Mas é um fato? Porque isso é relevante? Todos não lavam o
pé? Sem sono por conta deste mistério, decidi que primeiro deveria ir atrás de saber
quem são os sapos, para então intuir
suas preferências, entender as maracutaias faceiras que permeiam num
subconsciente matreiro e, porque não dizer, anfíbio. Investiguei.
Comecei me
aventurando pelo submundo da “night brejeira”, onde conheci sapos juvenis que
me disseram que não lavam o pé porque “é
muito da hora, velho hehe”. Eles bebiam e dirigiam com velocidades altas
como seus sons. Parece que é algum tipo de transgressão para eles. Me apresentaram
algumas sapas (de cópulas bem acessíveis) que não lavavam o pé porque “somos
sapas descoladas e sempre nos demos melhor na turma dos machos, hehe. Os “pés-limpos”
são muito trouxas, sabe hehe”. Opa! Então existem aqueles que lavam, pensei. Me
incomodei quando vi algumas arrotando e rindo enquanto tiravam sarro dos higiênicos
que passavam.
Segui os cheirosos e
mais à frente encontrei algo que parecia ter uma cruz na porta. Lá, me responderam que “deve-se lavar o pé
porque... porque... porque deve-se lavar o pé”. Porém, depois de umas taças eu
saquei que muitos deles curtem também uma “sujadinha de leve”! Mas o fazem
escondido uns dos outros. Por algum motivo acham que não convém abrir isso
livremente ou repensar a tal lavagem, mesmo sabendo da realidade. Do lado de
fora desse lugar, haviam os que não lavavam o pé apenas porque os de dentro
falavam para lavar. Da rua, falavam que eram livres e que ninguém manipulava
eles e que tudo não passava de uma mentira e que isso não os fazia menores, e
que , e que, e que... Pra mim, eram escravos às avessas.
Corri dali porque
saiam faíscas! Ofegante, parei sob uma árvore onde, no refresco de uma sombra,
uma linda sapa sujava seus pés. Achei muito curioso! Prosseguindo com minha
entrevista fui notando que ela era uma enviada limpa a um grupo de sapos sujos.
Fazia isso pois, por achar que ter o pé sujo era um problema sem-tamanho,
precisava literalmente se infiltrar nos enlameados para lava-los. Achei meio
prepotente, mas...
Já estava cansado e
resolvi voltar. No caminho, dois sapos bem velhos. Um bem sujo e outro bem
limpo. Jogavam dominó, riam e se xingavam entre um gole e outro. Parecia que se
conheciam desde quando o brejo ainda era preto e branco.
-Ei! Sendo um de pé
lavado e outro não, como conseguem viver em paz?!
O de cá respondeu, de
costas e ainda arrumando as peças.
-Esses girinos
mimados já se acham sapos e gastam mais energia com o pé dos outros do que
arrumando pares para um dominó. Fazem piadas e empobrecem a escolha dos outros
como se sua opção de lavar ou não fosse a correta e verdadeira. Se munem de uma
autoridade inventada ridicularizando os que vem do lado oposto e fecham-se em pequenos
brejos que, posteriormente, acabam virando seu mundo inteiro. Seja para lá ou
para cá, são fundamentalistas em suas posições e quando enchem-se de coragem,
tornam-se absolutos e fechados enquanto reduzem o outro ao pé que tem. Investem
em enviados com panca de sapos-heróis, cuja única missão é invadir outras
lagoas e tornar como o teu, o pé alheio. Eu e este outro já enrugado aqui
optamos por jogar dominó porque vimos mais lucro nisso...
Concluí que o relevante
num sapo, não é se ele lava ou não o pé, mas com que ar de superioridade
enxerga o outro que não lava, ou lava o pé. Me vi em alguns sapos e não gostei.
Por achar que ainda estava em tempo, parei com a pesquisa e sentei para o
dominó.
Curioso. Empolgante. Verdadeiro.
ResponderExcluirGosto dos fundamentos, profundo. Intrigante. Desafiador.
Parabéns.
Lysis