Sobre as professoras de balé


  Eu não entendo nada de balé. Tenho dezenas de alunas que o praticam e já prestigiei suas apresentações em teatros, mas não entendo nada de balé. Já estudei muito o piano de Tchaikovsky, mas foi com as minhas alunas que diminuí a ignorância aprendendo sobre “o encaixe dos passos nas melodias secundárias”. É lindo e genial, mesmo para um leigo.
  E essas mesmas alunas (dezenas delas) frequentemente tem uma mesma queixa, que eu imediatamente relacionei com muitas professoras de piano erudito. É comum ver professoras de balé usando uma fantasia de “malvadas”. É como se existisse uma confusão entre competência e grosseria. Não entendo onde autoridade justifica a descortesia, não entendo onde “ser criteriosa” implica em “ser agressiva”. As professoras de piano usavam palmatórias nos conservatórios, talvez por isso tenham já quase sido extintas, mas parece que ainda existe este personagem no universo do balé, e pasmem, ele é alimentado. No mínimo permitido, curiosamente, sob o argumento de que “sabe como são professoras de balé né”. (????????) Não, não sei.
  Parece tudo muito bonito: uma professora “supercompetente”, que maltrata as alunas por carinho, para o bem delas... Essa lógica é ultrapassada, piegas, cafona, desrespeitosa e, pra mim, demonstra despreparo, necessidade de autoafirmação e insegurança. Acho questionável como uma professora de balé pode usar em 2016 a mesma didática do século XVII (Academia Real de Ballet -Luis XIV, 1661). Conhece alguém com idade a cima de 30 anos que já fez anos de piano e hoje não toca nada? Pois é, isso se dá devido ao desfavor feito pelas professoras de piano dos conservatórios de quatro décadas atrás...
  Posso estar falando um monte de besteiras, mas estou tentando ser coerente diante do número de comentários negativos e de alunas abandonando esta relevante arte. Isso claramente por que a falta de tato e desatualização docente, de pouquinho em pouquinho, foram dissipando o prazer até só existir cansaço. Minha torcida, assim como no ensino do piano clássico, vai para os mestres da nova geração. Como algumas meninas que eu não conheço, mas que eu via no recreio da escola, e hoje se tornaram mulheres professoras, revolucionárias no Balé.


Um cargo não permite tudo. Nossos traumas e frustrações não podem ser passados por herança. A Arte é viva e precisa de cuidados, pois é feita dia a dia por pessoas que merecem respeito.

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