Pelo menos uma vez.


Nem tudo tem de vir a boca.
Certos males de beleza oca são sabidos malfazejos.
Nem só do bem nascem os desejos, eu sei.
Mas com paridos do sorriso, postei uma mesa farta:

Ao menos uma vez dança fora do chuveiro
Faz sem culpa o brigadeiro e ri.
Te declara na calçada, te debruça na vidraça
Sente o medo que isso dá.

Ao menos uma vez aparece de surpresa
Canta alto com a firmeza que só os loucos tem
Dá uma cambalhota e mergulha de gravata
Só então, toma banho de caneca. Banho de gato.

Pelo menos por um dia viva o sonho de alguém
E nesse dia trabalha de verdade.
Mas se não der, senta na lama e ri. Juntos.
Explica que “tá tudo bem, este tênis era velho mesmo”.

Ao menos uma vez... Uma!

Na cozinha à quatro mãos dancem sujos de farinha.
E se a torta der errado, tudo bem.
Mas dancem sujos de farinha. Tira fotos mentalmente.
Faça disso uma corrente. Corrente não, uma fita azul-marinho.

Anda de mãos dadas com a tua vó
E se reolharem, diz que “é minha namorada”.
Morde um jiló e olha no espelho. Conta rindo uma estória ruim.
Sente a graça que isso tem.

Intenta aí uma coragem e beija a tal menina no recreio.
Pode sair correndo depois, mas beija a menina antes do sinal!
A noite, inventa que ela gostou e dorme feliz.
Sente o nervoso que isso dá.

Pelo amor de Deus... uma vez...

Para com isso e faz as pazes.
Evita canastra de azes, meu avô não gosta.
Sente o cheiro, vê a cor, pega na mão
Morde só depois.

Pra deixar com mais vontade
Só hoje, para de repente

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2 comentários:

  1. Emociada estou (lágrimas), essa leveza no escrever, essa verdade que é manifesta, misturada com doçura e graça me atraem. Meus parabéns, te agradeço por alegrar o meu dia!

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  2. Nossa, me apaixonei por este poema! Parabéns, coisas simples da vida...

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