Sr. Célio, me apaixonei.


  Sr. Célio, sei que ando meio sumido de nossas confrarias, mas mando esta carta para contar as boas novas e me desculpar por deixar nossas taças empoeiradas.
 Há algum tempo conheci uma mulher. Ela escreve bem e lê muito. Me conta coisas sobre autores que moram muito, muito longe e sobre textos escritos a muito, muito tempo. Ela fez um mousse de chocolate para mim, eu gostei. É, eu sei que é estranho pois sempre te disse que não gostava de chocolate... mas eu quis comer. Tenho percebido que minha mão tem suado mais, e as vezes as palavras me fogem. Poxa, o senhor sabe como eu sempre fui bom com elas! Não sei o que está havendo. Outro dia, antes de me aproximar, fiquei observando de longe. Suas curvas lembram meu baixo acústico... talvez seja por isso que me sinto à vontade quando estou em seu colo. Seus lábios formam um delicado M, e ela tem uma pinta que eu gosto. Já achei várias letras espalhadas por ela. Seu perfume, embora seja de tulipas brancas, a mim tem o efeito das papoulas. Ela gosta de azul marinho. Gosta de poemas portugueses e suco de maracujá com gelo separado. Ela usa essas pinturas que as mulheres famosas usam no rosto, e entende muito delas. Ela ri fácil e faz minhas bobeiras parecerem grandes sacadas.
  Acho que o que eu gosto mais é que para o mundo ela parece forte e imponente, mas quando comigo, tem gosto em ser pequenina. Ao mesmo tempo, por vezes quando diz algumas coisas em francês, me faz sentir menino. As vezes ela deita no meu peito e eu sinto algo que ainda não deram nome. Tenho vontade de gritar na janela uma palavra que ainda não inventaram. Uma mistura de “Aleluia!”, com “Goool!”, com “porra consegui!”. Não sei se dá para entender... É como um gole num Supertoscano 2005, a safra perfeita. Falando nisso: conheci seus pais e levei o vinho que o senhor me indicou. Também usei a meia esquerda do avesso exatamente como me jurou que daria sorte. Parece que deu certo, o pai dela me quis bem. Então ela conheceu os meus e foi igualmente bom. Juro que tento sempre ser elegante e nunca esqueço das portas. Esqueci só uma, certa vez que ela se antepôs.
  Hoje inventei alguns segundos de coragem e pedi ela em namoro. É, eu sei que já estava na hora, mas é que eu quis fazer tudo certinho. Comprei uma rosa e a escondi atrás do banco. Quando ela desceu do carro, antes que chegasse ao portão eu corri e a abordei na calçada. Sabia que minha barra de coragem estava se esvaindo à galopadas então voei para a calçada.
  Tirei o tênis e as meias, exatamente como se deve fazer antes de entrar em solo sagrado.
  Segurei publicamente a rosa antes secreta, com a honra que apunhavam as espadas no século XII.
  Me ajoelhei, prostrado como qualquer homem são ficaria diante de tudo aquilo.
  Olhei em seus olhos, como alguém que pede.
  Estendi a rosa, desenhando uma linha que cruzava o infinito entre eu e ela.
  “Aceita namorar comigo?” Foi tudo que eu consegui falar com o pouco que me restava de coragem. Nossa, eu me sentia com a autoridade de alguém de 14 anos.
  Silêncio... Só Deus sabe como foram maldosos os segundos em pausas que se seguiram. Sr. Célio, aqui eu estava nu, completamente desarmado me pondo inteiramente sob o julgamento dela.
  “Claro que eu quero!” foi o que voltou! Então, para a redenção da humanidade ela me levantou pela mão e me abraçou minha. Agora havia paz em Israel! O chineses salpicavam o céu com seus fogos antiquíssimos e por toda África podiam se ouvir os tambores! Revoadas de querubins pousavam nos fios elétricos e eu sei lá o que aconteceu depois. Acho que minha taxa de glicose subiu e tudo ficou branco…
  Foi assim, uma quarta-feira de cinzas que, por mérito dela, desdenhou do gris e fez-se luz. Um final de carnaval que, porque era ela, sorriu um sorriso libertador até amanhecer no 14 de fevereiro, Valentine’s day. A América toda estava em festa, parecia que todos já sabiam...

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2 comentários:

  1. Ai Minoru, chorei e chorei, e acho que não preciso explicar o motivo. Tá, vou dizer: o amor me co/move.

    Cultivem-se frequentemente, amém.

    Felicidades :)))

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