Curti comigo um funk-ostentação?!

  O Funk-carioca veio do Rap, que é uma abreviação para rhythm and poetry (ritmo e poesia) criado nos Estados Unidos, mas vamos voltar um pouco mais...
  Na década de 60 chega à Jamaica os “sond-systems”, aparelhos de som minimamente potentes que animavam pequenos bailes nas ruas de pequenos bairros. Nesses encontros haviam os “toasters”, verdadeiros mestres de cerimonias que discursavam sobre os temas mais relevantes para o contexto. Do fulano que roubou uma galinha do vizinho, até o outro que engravidou a menina de 14 anos. Com a crise de 70, muitos jovens fugiram para A América e levaram consigo seu canto falado. Em 1978 o estilo saltou da clandestinidade de gravações caseiras em becos, para o renomado vinil, com King Tim III.
  Daí pra frente o grito jamaicano passou a ser mais do que internacional, mas visceralmente americano. Internacionalmente-afro. Sangrou toda a ressaca racista de um pais de “Apartheid quase não camuflado". Chorou na luta pacifica com Martin Luther king até as mãos armadas dos Panteras Negradas.
  Onde quero chegar?
  Quero dizer que em meados da década de 90 o Rap estourou nos USA até em bairros brancos. O grupo excluído começou a conseguir influência, espaço e muito dinheiro. Foi um tapa na cara dos Republicanos. Apareceram então os primeiros videoclipes na MTv onde cantores negros faziam questão de mostrar seus bens! Era uma vitória! Era um “chuuuuuupa! Olha onde eu cheguei seus brancos de merda!” ou mesmo um “eu venci o sistema de vocês!”.
  Por aqui, desde a década de 80, grupos como Racionais e DMN vieram fazendo bonito e representando a continuidade deste processo. O Rap foi para o Rio e lá evoluiu ritmicamente até chegar ao funk da década de 90 (não o de hoje) com a famosa: 
eu só quero é ser feliz,
andar tranquilamente na favela onde eu nasci
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar

  Tudo estava indo muito bem e muito coerente, caminhando de um modo extremamente relevante. Mesmo com seus palavrões, incitações ao sexo e violência à polícia, era completamente LEGÍTIMO, até aparecer o funk-ostentação.
  Jovens da comunidade, assistindo aos vídeos de americanos com seus carrões, mulheres e todo aqueles “demais”, não entenderam a provocação que representa (talvez hoje não mais com este objetivo, mas pelo menos com muitas razões de serem) e começaram a imitar. Mas sem causa nenhuma, senão a própria ostentação MENTIROSA, afinal, nenhum deles tem nem os carros, nem as casas e nem os charutos. Acredito até que se soubessem que Chandon é um espumante nacional, nem gostariam mais! Entende a desinstrução? É Vazio de sentido. Quando vejo o 50cent numa Ferrari eu vibro! Porque ele realmente tem aquele negócio e isso cala a boca de muita gente! Mas quando vejo um Mc Magrinho cantando numa Land Rover alugada, sem nem mesmo saber que as chaves de uma Land Rover dessas fica do lado esquerdo, eu brocho... Não tem significado nenhum, propósito nenhum, provocação nenhuma, mensagem nenhuma. Imagino que os caras dos Racionais devem encarar esses pela-sacos, assim como os caras do AC-DC encarariam o Restart.
  Bom, eu resumi, mas é por isso que eu acho ridículo e desprezível este tipo de agrupamento de sons.

Então, “vamos curtir comigo um funk-ostentação?!”, não, valeu.

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