Sonhos, farinha e giz.


  “Durante e após a Primeira Guerra Mundial uma terrível escassez de alimentos fez com que muitas pessoas ficassem malnutridas. Com a Segunda Guerra o governo inglês se viu em uma situação dificílima: a quantidade de alimento, assim como a sua qualidade, eram de extrema deficiência. A saída foi GENIAL. Convocaram as melhores cozinheiras da Inglaterra para saírem pelo país ensinando uma maneira inteligente de preparar alimentos saudáveis e nutritivos com a pequena gama de ingredientes disponíveis. Nasceu o “Ministério da Comida”, liderado Marguerite Patten, uma elegante garota de Barnet.”
  Esse fragmento é do meu livro de receita favorito, “A revolução na cozinha – Jamie Oliver”. Mais do que as receitas em si, o propósito foi o que me apaixonou. Numa época política difícil, num momento bélico, numa atmosfera tensa, a salvação civil veio de mãos delicadas. Quando o diálogo viril e poderoso se fez inútil, a redenção veio em aventais com farinha. Percebi então que aqueles que vencem pela força são reféns de suas munições, já quem ama, é aliado da inteligência.
  Lembrei então te todas as vezes que eu tentei ganhar utilizando armas erradas... Lembrei das conversas que eu já ganhei com argumentações cruéis e indefensáveis, mas perdi a pessoa... Lembrei de tudo...
  Foi então que me perguntei onde estavam as pessoas que formariam O Ministério da comida hoje. Quem eram as pessoas que hoje ainda trabalham com essas “armas”. Por algum motivo me vieram as professoras de ensino infantil. Aquelas que tem a competência de lidar com pequenos humanos -competência essa que eu nunca tive-. Tive uma inveja boa... Acho que a minha esperança está nelas, pois trabalham com a formação de um cidadão, formam conceitos, criam costumes, alimentam parâmetros fundamentais! Meu Deus, abençoe estes profissionais. Eu já tentei, e falhei. Que eles tenham mais amor e competência que eu, que a despeito de mim, ainda me considero fruto deles. Que de alguma maneira eu possa dar-lhes orgulho.
  Meu carinho especial a professora Cidinha, que me ensinou que no hino é “seio” e não “seios” como eu gostava. Às professora Roberta e Renata por me falarem de Monet quando tudo que eu tinha eram rabiscos. Tati pelo "to be". Professor Milton, por me incentivar ao caminho tortuoso, ingrato e prazeroso das notas. Yukiko, pelo “ch”, “x”, “u”, “l”... e todos ou outros erros que eu sempre cometi... Fátima Peixoto, por acreditar que eu sempre podia fazer mais. Ruth, Pixinga... Muito obrigado.
  Talvez este texto seja pessoal demais, ou eu mesmo que não tenho capacidade de expressar o quanto estou emocionado escrevendo isso... meus olhos se enchem à atrapalhar a vista.
  Pelo amor de Deus, novos professores não desistam. Por favor! Por favor! Toda minha reverência àqueles que me colonizaram, que tornaram possível esta comunicação linguística que tanto uso hoje. Sem vocês eu não teria musicas nem textos. Logo, não teria sonhos, já que os meus partem daí.


  Aceitem por favor essa oferenda de um coração lavado em gratidão, de um homem inundado de sentimentos e boas lembranças. Eu sou fruto de vocês, e por isso meus sonhos serão realizados. E quando este dia chegar, entendam que esta realização são de vossas mãos, não sujas de farinha, mas de giz...

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2 comentários:

  1. Querido Minoru, fiquei muito emocionada ao ler seu belíssimo texto valorizando tanto o trabalho do professor, tão desvalorizado, atualmente, por alunos e pela sociedade.
    Para mim, suas palavras me enchem de orgulho e soam como presente de natal.
    Muito obrigada!
    Você é uma pessoa iluminada e, tenha certeza, estarei sempre aplaudindo suas realizações.
    Abraços carinhosos!

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