Maçã

Em homenagem ao dia do músico, uma análise. Para quem faz questão de sutilezas, ao invés de mini-saias.

Maçã - Djavan 

“Subi ladeira nas carreira”. Alguém corre ansioso. Alguma coisa convida. Existe vontade.

“Te amei desfiladeiro abaixo”. Com a impotência de alguém que cai, rola por uma ribanceira. Suscetível, à mercê, refém... Assim esse alguém que corre sente. Mergulha de cabeça em algo ainda não explicitado.

– a sutileza de subir e descer. A ambiguidade de quem levita no amor enquanto se afunda no descontrole de si-.

“Encalacrei no lodo, na lama, na areia movediça da caricia humana”. A armadilha do toque, o choque. A candura de abrir mão das rédeas e ter prazer nisso. Ser pego por ser entregue.

“O chão brilhava. A casa ria”. Pensa em alguém feliz.

“Clareava o dia e eu nos teus braços”. Ter ciência de tudo e ainda assim se demorar como quando está tudo certo.

“E viajei. Fui bater na Espanha com o cheiro que você tem.” Das sedutoras pétalas da Papoula, também vem o ópio. Do canto erótico da sereia, o óbito.

- A ferramenta agora é o uso dos mais diferentes lugares para dar a ideia de subjetividade, entrega, efeito. A experiência e o sabor, a explosão de tudo isso.-

“Me embriaguei. Destruí Casablanca e me revoltei contra a Nicarágua após me atolar lá no Irã”. A bobeira feliz e bonita de um homem inundado de sentimento. A coragem inventada, a ousadia inconsequente de quem ama. O cão que baba e corre atrás dos patos e não os pega, e tudo bem.

“Seu beijo é Nova Yorque, o que quer dizer maça”. O gosto que tem. NY, the big Apple. 

“Como é bom te querer. Acordei, estava frio. Dei a volta e voltei pro Rio”. De repente, em algum lugar entre um Sol e outro, a realidade acorda ele aos tapas. A viagem não planejada e sem controle é atrapalhada como que por um muro súbito. Um rápido levantar do travesseiro e a breve pausa finda com a volta a calmaria pois, “é bom te querer”. E isso é sensacional! Em nenhum momento aquele que outrora corria TEM a outra, e tudo bem! “Querer” já é bom e basta.

Sutil. 

Tweet