China: Moral, ética e olhos puxados


   Antes: entendo “ética” como um parâmetro compassivo, comum e mundial que delimita o comportamento social do ser-humano; e entendo “moral” como os limites e pressupostos culturais, religiosos e pessoais de um menor grupo de pessoas. Um país por exemplo.
  Tive a oportunidade de visitar a China, e o que mais me surpreendeu não foram as comidas exótica, nem os eletrônicos e nem o Mac Donalds falso. O que acabou comigo foi uma conclusão que eu só consegui formular depois de uns dias de digestão. “Eu confundia a moral cristã com a ética mundial.”
  Explico. Antes eu achava que algumas condutas e escolhas eram “óbvias”. Achava que alguns “pesos na consciência” eram comuns, inevitáveis e até esperados de alguém “são” e de bom coração. Doar aos pobres, ser fiel a sua bandeira –time, empresa, partido-,  lutar pela transparência política, pela sua liberdade de expressão. Encarar as dores e as necessidades do outro como sua.
  Não que nós cristão consigamos de fato ser assim, mas isso tudo é no mínimo de bom tom. São alguns dos valores implicitamente aceitos e até cobrados pela minha sociedade.
  Acontece que chegando lá eu vi que “não funciona bem assim por aqui”. As pessoas são menos “nós”, o proletariado é mais “rebanho”,  política é mais “não é assunto meu” e TUDO BEM! Isso! Veja. Lá, as pessoas que trocam de empresa, fornecem informações por dinheiro não são antiéticas ou malvistas.  São normais. “Eu trabalhar numa fábrica sem proteção, sem ferias, sem nenhum auxílio ou segurança, eu não opinar sobre os meus líderes, eu não poder crer no Deus que eu queira ou não ir e vir para onde tenha vontade e na hora que eu tenha vontade, NÃO ME INCOMODA. Exatamente. Quem os “oprime” não é um malfeitor, essas coisas apenas... são.
  A dificuldade agora é: parar de ficar querendo achar que eles estão cegos e que eu sou o cara que pode salva-los. A minha maneira de ver o mundo é a certa e a melhor, por isso, quem não a imita é desumano.
  É muito difícil aceitar o que eu estou dizendo, eu sei, mas vejamos as africanas que têm o clitóris cortado para que não sintam prazer. Isso nos parece inconcebível! Claro! Mas toda manifestação contra isso que não parta DELAS, é no mínimo questionável. Antes devemos perguntar: Isso é um problema para vocês? Te incomoda? A revolução do Egito teve o auxílio do mundo todo, mas começou lá!
  Devemos entender que da mesma maneira eles podem ver coisas que fazemos aqui como absurdos! Costumes nossos que os ofendem profundamente. É como um indiano ver nossas churrascarias.
  Aprendi que cada povo tem seu costume, seus valores e sua MORAL. Aprendi que meus valores, princípios e pressupostos constituem a MINHA MORAL –que no meu caso é cristã- e não uma ÉTICA MUNDIAL. Eles não estão errados, eles são diferentes. Eu não devo “salva-los”, mas ajuda-los, se assim eles quiserem e solicitarem.
  Eu sei que é difícil, nos sentimos omissos diante de um contrassenso, mas entenda que o seu senso não é o mais sensato. É apenas, seu.

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5 comentários:

  1. Não sei sobre o que se trata o seu livro, mas "acho" que deveria abordar mais sobre isso, e se tiver espeço inluir lá...já está certo que teria um comprador para ele...rsrsrsrs.

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  2. Nossa, fiquei impressionada!!!!!É muito diferente ouvir que alguém foi e disse e ler tudo isso, realmente, constatado por alguém como você.
    Parabéns pelo texto. Me emocionou!!!!!!!Ah, sobre o livro estou ansiosa. Beijos carinhosos!!!

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  3. Cara, parabéns! Mais um belíssimo texto! Ótima visão e raciocínio!

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  4. Difícil heim... em sentido cultural, talvez por ser mais distante de nós ou as diferenças serem mais gritantes... atentar para as diferenças seja mais "fácil". Mas o que gostaria de ousadamente contribuir ou não...rs, seria... Como difícil é agir com mais complacência com diferenças mais próximas de nós... Nem digo das diferenças de cor ou gosto seja de moda, música, fala, futebol, religião, política...enfim que são discutidas a todo instante incansavelmente... mas gostaria de ressaltar as menores e minuciosas, que levam as massas...rs, temos uma tendência muito "natural" de cairmos no erro de fazer o que criticamos... como por ex: falar em respeito quando não respeitamos... Colocamos nosso foco, exaltamos o que fazemos e taxamos bonito, o que a sociedade ou alguém que amamos diz que é bonito, mas colocamos de baixo do tapete nossas atitudes de desrespeito, ocultando-as de nós mesmos... E nos achamos descobridores de verdades e o que é diferente do que pensamos por ser diferente é menosprezado e atacado...talvez não conscientemente ou talvez fingimos ser inconsciente.
    Se conhecer é totalmente necessário para amar...pq amar sem se conhecer faz o "amar ao próximo como a ti mesmo" não acontecer como nos foi proposto... Tenho mais a dizer...mas, chega, falei não demais, de repente o suficiente pra mim mesma...e quem sabe para um outro alguém mais. Belo texto, bela visão de reino! bju

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  5. Minoru, preciso dizer que este é um dos melhores textos seus que já li.
    Se um dia ele for lido em voz alta, avise: quero colocar o máximo de microfones em volta pro máximo de pessoas ouvir.
    Parabéns!

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