Nós, eles e um mendigo.

  Esta semana me deparei com pessoas que realmente acreditam que um mendigo está lá por opção dele. Sim, todos sabemos que existem moradores de rua que negam ajuda, que não aceitam ir para clínicas e as vezes nem mesmo remédios. Mas acredito que não é assim tão simples.

  Um mendigo que não aceita voltar para a casa de familiares com os quais já teve problemas, um mendigo que por medo, não aceita ir para uma clinica –depois de ver várias reportagens de maus tratos em muitas dessas-, um mendigo que não aceita entrar numa ambulância, creio que estes ainda assim não estão na rua porque querem. Estão na rua porque as saídas que lhes foram apresentadas não pareceram seguras. Preferem a rua porque muitas vezes nasceram nela e aprenderam assim! Não esqueçam que estamos lidando muitas vezes com pessoas que, pelos anos “selvagens”, perderam os parâmetros. Então diremos “viu, ele que quer..”? Não.

  Começo a ficar com medo quando vou vendo pessoas escoladas acreditando na força do destino. Na imparcialidade aleatória da sorte. Na conveniência de um Deus determinista -com os outros né...-. Desafio todos vocês a, na minha presença, olharem bem no olho de um morador de rua e dizerem: “Você está aí porque é o seu destino” ou “Deus tem um propósito nisso”, ou ainda “Você está aí por uma escolha sua, afinal, todos tivemos as mesmas oportunidades”.

  De quem é a culpa? Ok, vamos por partes:

  Assim como os desastres climáticos do Japão tem mais relação com o silício do meu celular e com o gás carbônico do meu carro, do que com a vontade de Deus, essas pessoas também não foram postas ali por Deus. Pelo menos não pelo meu. Elas são consequência de um formato político-econômico-social que desde lá atrás desequilibrou a sociedade em castas. Um modelo movido pelo desequilíbrio de poderes que chegou a ser culturalmente aceito. Preconceitos raciais, étnicos e sexuais também causam exclusões que, se lembrarmos que inviabilizam empregos, podem gerar mendigos também. Basta ver os mexicanos nas ruas de NY. Afirmo sem medo que não, não foi o destino nem Deus que o pôs lá. Mas sim um sistema do qual eu não só me aproveito, mas o alimento –logo, a culpa é minha também se eu não faço nada para que isso mude-.

  Se você não se mobiliza para mudar isso, eu não tenho nem moral pra te cobrar. Mas falar que todos os pedintes do mundo existem, porque não tiveram a sua sabedoria e astucia para aproveitar uma oportunidade que todos –supostamente- tivemos, é muita prepotência. Destino deles? Deus que quis? Ah claro, conveniente, como todo calvinista que faz parte sempre da turma dos escolhidos, nunca da outra.

Tweet