Capacete Salva Vidas


Em Arujá todo mundo começa a dirigir meio cedo (no condomínio só), e eu sempre gostei de motos. Uns pinos aqui e umas cicatrizes ali, mas nunca aconteceu de eu morrer. Tinha nove anos quando ganhei minha primeira moto e sempre me fascinei com os sons daqueles motores. Mas hoje vejo que o que me embriagava era o capacete.
Comecei a pensar nisso quando estava passando por uma lombada e no sentido contrário passou um cometa com um motoboy em cima.
Foram só alguns milésimos de segundos até que passasse aquela sensação de gravidade zero que o topo das lombadas dá, mas foi o suficiente para eu ver que aquele cowboy que domava uma CG 125 maluca estava cantando qualquer coisa muito alto. De repente comecei a lembrar um monte de coisa, e pensar no que tudo aquilo foi para mim numa outra época.

Não sei se todos aqui já colocaram um capacete na cabeça e saíram por ai ao vento, mas parece Mesmo que ninguém pode te ouvir. É como entrar numa bolha. Ou como naquelas propagandas de chiclete ou enxaguante bucal em que o cara põe a cabeça num aquário e dá um grito. É lindo.
Eu cantava a letra até quase ficar rouco. Chorava a falta até quase ficar roxo. Ensaiava o beijo até quase ficar rosa e fazia planos até quase ficar rico. Eu não falo palavrões, mas lembro que com meu capacete eu experimentava alguns (nenhum muito pesado) e ficava com a adrenalina à mil com isso. Eu me declarava. Eu me duplicava. Eu me dividia. Eu era EU.
O capacete me fazia me transbordar em mim. Um Sol que me aquecia até que eu me transpirasse em mim.
Hoje meu capacete é meu baixo. Talvez um pouco mais evoluído, ou não. Mas é por ele que eu faço agora as mesmas coisas que outrora. As vezes consigo ser menos selvagem, ou não. Eu preciso do meu baixo para sempre me relembrar de quem eu sou. Assim como já precisei muito daquele capacete.
Penso que todos carecemos de capacetes. E também devemos saber que eles se transformam com os anos. Porque nós nos também nos transformamos com os anos.
Hoje não ando mais de moto. Mas sou o reflexo dela. Dela e de todos que eu citei em minhas orações e xingamentos quando estava em cima dela. E hoje, não sou eu mais quem fala num capacete. Sou o que cala. Agora deixo que as notas graves de um capacete expressem o mesmo Minoru que vestia um baixo na cabeça... ou vice-versa. Tanto faz, são a mesma coisa...
Tetelestai.

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4 comentários:

  1. Acabei de começar a pensar em qual seria meu "capacete".. Terei uma resposta provavelmente amanhça lá pro final da tarde, que é quando eu entro no onibus e reflito sobre tudo o que se passou, no meio de toda aquela balburdia... Então te trarei uma resposta!! Saudades!

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  2. NÃO SEI SE TIVE UM DIA O MEU MINORU... MAS AAAMAAAVA OS MEUS CABELOS AO VENTO, CADA VEZ MAIS AMAVA A POSSIBILIDADE DE VOAR MUITO ALÉM...
    AGORA PENSO... E HOJE... QUAL SERÁ O MEU CAPACETE...? A MINHA CRIA????... ACHO QUE NÃO... MAS ACABAMOS PENSANDO MUUUITO MAIS EM UM CAPACETE...
    MAIS AINDA PREFIRO QUE MEUS CABELOS FIQUEM AO VENTO...
    SAUDADE... VOCÊ É IMPORTANTE... BJUSSS...

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  3. Meu ukulele. Sons tão simples que me trazem paz em meio ao caos do mundo num dedilhar sereno.

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