3 lobos, um menino e um Morango

   
Um velho me contou a estória de um menino que fugia de três lobos. Sujo, quase sem ar e sangrando, ele desviava de galhos e pulava pedras. De repente tropeçou numa raiz e escorregou sem controle por um barranco até ser arremessado no vazio de um precipício. Agarrou-se num galho na parede do abismo. Em cima os lobos salivando, embaixo o escuro da garganta sem fim. Cada segundo durava 3 dias. Os dedos lentamente desli s a v  a  m....
  -O que é aquilo?!
  Inesperadamente, um pouco à esquerda, havia ali um galho que ostentava um brilhante morango, bem na ponta. Não sei se era o momento, mas parecia o morango mais suculento jamais experimentado. Era vermelho como uma tulipa no fim do inverno, provocante como uma dançarina de tango. Sem pensar duas vezes, o fugitivo usou todas as forças que lhe restavam e se esticou. Apanhou a fruta e mastigou à escorrer pelo pescoço. Sempre penso que ele fechou os olhos nesta parte.
  A estória acaba aí. Assim, mesmo. Me apaixonei por esta estória e lembrei dela nestes dias.
  Até pelo ramo profissional que escolhi, sou rodeado de medos, sonhos, incertezas e inseguranças. Nunca sei ao certo como será o ano seguinte. Seja com notas ou letras, não tenho escolha a não ser compor um dia de cada vez. Mas vez ou outra Deus me manda uns morangos. Acabo de viver dias inesquecíveis ao lado de dois caras especiais, Lucas Peixoto e Ivan Dalton Lima, amigos desde a primeira série. Fomos, literalmente, até o Fim do Mundo, conhecemos paisagens onde homem nenhum habita. Sentimos o frio da geleira que mata, o vento das pedras que cortam. Dirigimos até depois de onde o olho alcança e nos prostramos diante da opulência da mãe Terra. Mas mais que a aventura, meu morango foi o tempo com eles. Estamos tão diferentes.. Diferentes uns dos outros e diferentes de nós mesmos naqueles recreios em que jogávamos tazos. Um engenheiro matemático, um administrador acelerado e um músico escritor.
  O morango é isso, ele não muda necessariamente o final das histórias, mas te dá fôlego. Ele não elimina os lobos e os desafios da vida, mas nos embala no colo como alguém que te ama de um jeito maternal. O morango não é uma mágica, mas um Sopro. Um Sopro de vida que entra nos pulmões e grita “vamos pra cima! Tenta de novo!”. Os morangos são como pequenos oásis no deserto onde os forasteiros encontram abrigo e água fresca. E os oásis não diminuem o tamanho nem o calor dos desertos, mas multiplicam as esperanças.
  E Deus falou comigo por meio deles. Dividimos planos, vontades e medos. Sonhamos nossos futuros e sangramos nossas limitações, mas dividindo parece mais fácil. Por alguns dias me senti voltando àquela escola com minha lancheira e procurando eles no pátio. Ainda rimos exatamente igual e o Ivan ainda corre com a mão aberta pra ajudar na aerodinâmica. O Lucas ainda gosta muito de salsicha e presunto. Meus dois morangos, ou “maracujás”, que é a palavra que eles sempre usam para zombar dos meus poemas. 
  Isso! De hoje em diante contarei essa história sempre usando maracujás ao invés de morangos! Em memória do que vivemos e ainda somos! Assim, sempre que contar esta história para ninar meus filhos, logo em seguida explicarei que não eram maracujás, mas que troquei porque ficava mais bonito assim...
  -pausa para um sorriso e uma piscada longa-

  Isso... “3 lobos, um menino e um maracujá”...

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Um comentário:

  1. Caraca Minoru!!
    Emocionou! Melhor texto!!
    Como vc msm disse, ainda somos os "mesmos", e pode contar comigo, pq não importa quantos lobos sejam, nos somos em 3!

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