Gandhi e os caras da 4ª série


  Quando eu tinha 9 anos, só era “da hora” quem conseguia atravessar a piscina do condomínio inteira por baixo d’água. As pessoas do mundo eram divididas em dois grupos: as “que conseguiam”, e o “resto”. Eu quase consegui várias vezes, mas quando passava da linha da escadinha ia me dando um pânico e eu ia batendo os braços cada vez mais rápido, rápido, rápido! E levantava pra respirar.. Até que um dia a Priscila resolveu fazer o aniversário dela onde? Isso, na piscina.. Era o meu fim.. Enquanto eu era do grupo do “resto” só perante “os caras da 4ª série”, tudo bem, mas na frente da Priscilla?! Oloco... aceitei que minha vida social acabaria na quinta-feira. Pensei até que poderia ter a sorte de cair e quem sabe quebrar um braço e assim não poder entrar na água, mas nada aconteceu. Infelizmente a sexta-feira chegou e eu estava super saudável.. Na festa, claro que chegou a hora “dos que conseguiam” se mostrarem, e claro que uma hora olharam pra mim. Eu todo gordinho, branquelo, orgulhoso desde pequeno e ainda mais com a Priscilla olhando, caminhei pra borda como quem caminha para a ponta da prancha de um navio pirata.

Pulei. Nadei como se não houvesse amanhã. E pela graça e misericórdia do Deus todo poderoso, não sei explicar como, encostei a mão na outra borda sem respirar. Ao contrário do que acontecia dentro da minha cabeça, por fora eu saí da piscina normalmente, como se fizesse aquilo todo dia... A Priscilla não sabia que eu conseguia. Na verdade nem eu sabia! Mano, agora eu era da turma “dos caras”..

  Muitos anos depois li num livro a história de um cara que se achava paralítico. Sabendo que um sábio passava pela cidade, foi até ele e suplicou pela cura. O sábio olhou pra o paralítico e respondeu “ué, levanta e anda!”. O resto do poema conta que o doente levantou, pegou suas muletas e voltou andando! Aconteceu um milagre! Ok, mas o milagre não foi o paralítico andar, e sim passar a acreditar que ele podia. E aí está a maior beleza do sábio. Por onde ele passava, fazia as pessoas serem melhores e terem mais fé, por meio dele. O Gandhi dizia que “o homem bom reaviva a fé das pessoas que cruzam o seu caminho”. A Priscilla nem imagina o quão Gandhi ela foi pra mim. Missionária Dorothy, Madre Tereza, Chico Xavier, meu avô e até o Ceia do Cavaleiros do Zodíaco.. Por algum motivo as pessoas saem mais fortes e capazes da sua presença. Não por glória deles, mas porque eles ajudavam as pessoas a soltarem suas muletas. Cristo tinha este poder.
  As pessoas procrastinam muito os seus avanços por covardia. Atrasam sua evolução por medo de encarar os conflitos. Evitam desconfortos e por isso estendem os períodos de mudança e sofrimento. Por falta de disciplina continuam obesos, por comodismo continuam doentes e preferem dizer que não conseguem só para não terem o trabalho de evoluir. Aumentam os pesos na academia migalha à migalha alegando “cautela”, mas no fundo é medo e preguiça. Passam anos sem atravessar a piscina por baixo d’água acreditando que não conseguem. Se escondem atrás de cursos, casamentos, necessidades especiais, empregos, falta de dinheiro, deficiências...

  Onde você poderia estar hoje se lá atrás alguém, ao te ver suplicando socorro, te dissesse “ué.. levanta e anda!”. Amanhã você ainda estará lambendo suas feridas? Pelo amor de Deus, largue as suas muletas e passe para o time dos “caras da 4ª série”, já está ficando feio...

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