Resiliência Agridoce


  Segundo Michaelis, “Resiliência: 1 Ato de retorno de mola; elasticidade. 2 Poder de recuperação. 4 Trabalho necessário para deformar um corpo até seu limite elástico.” A Psicologia usa este termo da Física para fazer referencia àqueles que passam por adversas extremas sem um surto psicótico.
  Dizem que esta é uma das mais importantes características que alguém pode ter. Ir ao limite e não estourar. Reconstruir. Se adaptar, começar do zero. Moldar-se a. Relacionam-na até com firmeza, constância, pertinácia. Soa bonito.
  Mas até onde a resiliência não é conformismo? Indolência? Preguiça. Acho que as vezes não quebramos pelo trabalho que isso daria. As vezes quebrar é mais penoso que não quebrar. Guardadas as proporções, é como aquele amendoim ruim que, durante uma conversa não paramos de comer pois “o outro está longe”. É como não se incomodar com as coisas sabor morango. Elas não têm gosto de morango, têm gosto das coisas que são sabor morango. O que é bem diferente, “mas tudo bem, não é ruim”. É como ouvir uma música ruim na rádio pois “já já acaba”.
  Exemplos lúdicos à parte, vamos lembrar dos casamentos de fachada. Jovens que cursam faculdades que não gostam. Namoros que “já são longos mesmo”. Vamos lembrar de empregos que “não eram o que eu pensava”. Isso não deixa de ser resiliência. Aguentar retorcer, esticar ao limite, repuxar e não estourar. Talvez por um motivo maior é verdade. Mas já vemos que não soa mais tão bonito. É justificável, só não mais tão bonito.
  Fiz um experimento: Vi minha irmã jogando Ludo com a amiga dela. Me deitei e coloquei o pé no meio do tabuleiro. As duas, que não entenderam nada, ficaram inconformadas, afinal eu chutei tudo e espalhei as peças dificultando até mesmo saber em que pé o jogo estava antes. Literalmente não arredei pé. Não dei ouvidos. Fui pedra. Comecei a ler meu livro –com o pé lá-. Depois de um tempo, aceitado que eu não cederia, o jogo continuou. Imaginavam quantas “casas” teriam embaixo do meu pé e contavam mentalmente.
  Lembrei do “Se te queres matar, mata-te. Sem ti, correrá tudo sem ti.” do Fernando Pessoa, pois vi que podemos realmente circundar qualquer situação nova, e isso independe da idade, credo ou etnia.
 Concluí que a tal resiliência é mesmo a característica que mais se relaciona com o Homem. Não apenas por ser possível a qualquer um deles, mas por ter um lado bonito e outro não tanto. É como o Coliseu, o garimpo do ouro ou mesmo a cana-de-açúcar. É dissonante e melódico. Agridoce. É bilateral. Metade homem, metade Deus. Lindo e humano, como convém a tudo que foi feito por um Deus poeta.

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7 comentários:

  1. As pessoas tem medo de quebrar... Tem algo incomum e algo grandioso nesse ato. Tem uma nota triste também. Mas, faz parte.
    É como as estrelas, as vezes é preciso uma explosão interna de todo nosso ser para que possamos liberar todo nosso brilho e luz.

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  2. Cara, sem exagero...um dos melhores, senão o melhor!
    Amilton

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  3. De uma sensibilidade imensa. Podemos pensar em resiliência, sem parecer clichê mas já parecendo, quando pensamos na mãe de família desce o morro da favela todo dia pra ganhar um mísero salário só pra ver seu filho ter uma boa educação, boas roupas, o mínimo. Aí podemos observar que a resiliência está completamente ligada ao altruísmo, pois as vezes precisamos ser fortes e ir ao limite sem quebrar não por nós mesmos, e sim por aqueles que amamos. Esse é mais um lado bonito da natureza humana criada por um Deus Poeta, como você disse muito bem.

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  4. Que texto! Uau!
    Conheci há pouco esta palavrinha cheia de significados!
    E não havia visto ainda descrição mais fiel que esta sua!
    Sensível, verdadeiro. Incrível!

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  5. Parabéns! Que texto lindo!
    São os momentos desafiadores da vida que nos conduzem à superação.É nossa capacidade de resistir ao desânimo e buscar energia no fundo da alma que nos transforma em pessoas especiais.
    Um beijo carinhoso!
    Cidinha

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  6. Meu poeta favorito é Mário Quintana. Sabe por quê??? Porque seus textos são tão belamente escritos que fazem cosquinha no meu coração. Costumo dizer que para um escritor ganhar a minha atenção e meus olhos curiosos de leitora, o texto precisa fazer "cosquinha no meu coração". A arte de usar as palavras, de colocar sentimento e força nas letras e nos pontos pra mim é traço de Deus nos homens, desse Deus poeta, como você mesmo descreveu.
    Que Deus continue a usar seus textos para fazerem "cosquinhas" em muitos outros corações, pois eles já fazem no meu!!!!

    Parabéns mesmo!!! :)

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  7. Sei q sempre falo isso quando fico um tempo sem entrar aqui e depois volto, mas sempre fico feliz quando volto e encontro um texto do jeitinho q qr ler. É tipo uma festa de que bom que vc voltou haha!
    Adorei o texto ;)

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