“O Pseudo Samaritano”


Didi, Dedé, Mussum e Zacarias.

Antes de me decapitarem e jogarem meus restos num córrego, preciso pontuar alguns lugares comuns:

“-Sim, acredito em missões. Não. Não podemos nos fechar numa bolha.”

Meus entraves são com alguns valorosos missionários e os discutíveis métodos usado para seus fins. Não só por ter gosto, mas também por trabalhar com materiais culturais, é que vejo o saldo muitas vezes negativo dos “bandeirantes de Cristo”. Vejo uma bomba de boas intensões sem mira. Uma Ferrari com um motorista bêbado. Uma avó cozinheira com um neto que não come peixe. Um desperdício de energia e tempo. Muitas vezes um desfavor.

A verdade é que tenho asco da ideia de “vamos salvar do inferno esses selvagens!”. Primeiro, se friamente pensarmos: nós, quem somos os que precisam de MAIS para sermos felizes. Nós, quem somos capitalistas compulsivos. Nós, quem desejamos dominar o mundo, nós quem deformamos nosso corpo de tanto comer como leitões em regime de engorda! Nós somos os que precisam de ajuda!

Por favor! Como assim?! Chegar à uma cultura séculos mais antiga que a minha; em uma família muito mais estruturada do q a maioria do meu povo; com tradições e pessoas que a seguem de maneira muito mais honesta do que eu digo que vivo a minha e com a arrogância e a prepotência que só um pífio cristão ocidental sabe ter. Chego com o ar de que “vou coloniza-los espiritualmente e impor minha visão sobre Deus muito mais segura e coerente para o bem deles”.

“ -Ainda bem que você chegou hem seu safado! O que seria de nós?!”

Hoje os índios Aimorés sabem que não podem viver sem pasta de dente Colgate, mesmo tendo vivido séculos sem! Hoje os índios Kaapor na mata ciliar do rio Amazonas não vivem sem gasolina para suas Hondas XLR.

Assim como Lutero e Calvino pregamos ainda nos dias de hoje uma teocracia extremista, determinista ou não, mas interesseira, conveniente, corrupta e manipuladora nos moldes do formato “mega- church “ de produção.

É óbvio que não posso aceitar uma mulher ser condenada à morte por apedrejamento em pleno ano dois mil. Mas não é tão simples entrar na casa de alguém com uma cultura quase três milênios mais antiga que a minha e dizer “Você está maluco, à partir de agora você vai seguir as regras do meu novo e abusado povo do lado bom e civilizado do mundo.” Nós enforcamos Sadan Russen! Eixo do mal? Como assim!?

Qual o respeito nesse evangelho maluco de vocês?! Boa parte de nossa documentação cultural indígena se esfumaçou graças a bons samaritanos que um dia vieram falar desse Jesus que você não entendeu! Toda a biblioteca de Alexandria, com pergaminhos e registros manuscritos de Aristóteles e muitos pensadores do oriente foram queimados numa lambança dessa!

O evangelho é amor e relacionamento...

Ah... Chega. Já estou suando... Me poupe.

...Deus tenha misericórdia de nós. Porque eles, eu tenho certeza que vão para o céu...

Minoru Rodrigues Ueta Raphael

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9 comentários:

  1. É. Eu tenho que dizer que você sempre gostou de acender o fósforo, e tenho que dizer também, você foi próprio em exemplificar nossa "teocracia extremista".
    Mas uma coisa que eu sempre penso é que, Deus em sua infinita sabedoria e onisciência, sabia que seríamos mesquinhos e vaidosos e usaríamos sua Palavra da maneira que achássemos que tiraríamos mais proveito possível. Não por que somos 100% maus, mas por que não somos 100% bons. E se pararmos pra pensar, talvez o cara que é 35% bom seja muito mais cristão que o cara que é 50%, por exemplo, porque esse primeiro sabe se dispor sabendo de sua natureza podre e imerecida.
    Costumo pensar que os que se acham muito santos, nesses não podemos confiar.
    Acontece que, esse Deus que nos chamou não precisa de homens pra exercer a Sua obra ou a Sua vontade, mas Ele quer. Por que quando ele pega um idiota miserável e o torna um veículo de Seu Reino, Ele mostra ao mundo todo: "Eu Sou Deus". E mesmo que pensemos ou imaginemos no mais profundo do nosso ser que a glória é nossa, ah, que doce visão. Deus dá um tapinha nas nossas costas e diz: Não, filho, é minha, "Porque sem mim nada podeis fazer".

    Eis a famosa e muitas vezes difamada Graça, na minha humilde opinião.

    Adorei o texto.
    Beijo, Mi.

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  2. Existe um livro que se chama "O fator melquisedeque" e nele fala bem sobre isso.
    Deus não é pra ser imposto a ninguém...e sim pra se vivido. Quem somos nós pra afirmar que determinada cultura, forma de adorar é errada?
    Deus simplesmente está em todos os povos...está em tudo e em todos lugares. Nós é que precisamos enchergar isso e assim, deixar o Espírito Santo agir.

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  3. Eu só tenho uma coisa a dizer, pois as possíveis demais serão enfeitar pavão: Você acertou na mosca.

    O que se vê hoje é um processo de tentativa de colonização com roupagem evangelística. Isso é tenso. Muito tenso.

    Abs.

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  4. Cara, tava pensando sobre isso esses dias. decorrência do papo com o Matheus, aquele missionário que estava lá no JV.
    É fato que para muita gente as Cruzadas não terminaram. O que existe de ataque à cultura, ao modo de vida, até mesmo às vidas disfarçado de missão é impressionante, isso sempre me revoltou.
    Mas me lembro de uma coisa que ouvi, nem sei se foi no JV, tenho a impressão que não, durante uma pregação: o cara considerou um povo hipotético que vive isolado do outro lado do mundo, nunca ouviu falar de Jesus e adora o deus sol, a deusa lua, a terra e os elementos/fenômenos naturais e nos perguntou se nós achávamos que quando morressem eles iriam pro inferno. Todo mundo ficou calado, ninguém tinha resposta, e o cara continuou: se eu acreditar nisso, não tenho nenhum motivo para estar aqui, falando de um Deus de amor e misericórdia, porque tudo seria mentira.
    Esse povo que ousa pensar que é veículo da misericórdia de Deus ("se a gente não chega, Deus também não alcança") e esquece que é tão importante para Ele quanto cada Yannomami.

    acho que é bem por aí mesmo.
    vou parar antes que a minha tagarelice se empolgue.

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  5. Bom, você tocou no ponto certo MI, quem somos nós pra impÔr a nossa visão de DEus e mundo a quem já tem uma visão, as vezes muito mais verdadeira, do que é essa"colonização evangelística" numa roupagem autoritária, desrespeitosa, que entra sem bater na porta, sem perguntar se pode entrar.. af, princípios totalmente opostos dos que Jesus em sua sabedoria ensinou.. Ele nunca impôs nada, Ele sempre respeitou a opinião do outro, ele entra de maneira carinhosa, sem arrombar, sem impôr nada, mas com o seu coração imenso aberto ao Outro, respeitando as culturas, as diferenças..
    Gosto da sua ousadia, da sua transparência, e da verdade que escreve.. POr isso mais uma vez só posso te parabenizar por esse texto maravilhoso, que toca, que nos faz pensar, que nos faz despir dessa hipocrisia tão vigente..
    Continue assim Mi, escrevendo textos tão inteligentes e tocantes que a muito tempo não via.. mas uma vez é a sua cara..
    Beijinhos!!

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  6. Pois é mundo hipócrita, aliás pessoas hipócritas né, acham que podem passar por cima das coisas criadas por Deus, e pior se acham mais inteligentes que ele,destroem o que deixou, se matam entre si por coisas superfluas, desafiam forças maiores, duvidam de um Deus que outros seguem pq o seu Deus segundo sua religião ou coisa do gênero tem um nome deferente, será que é tão dificil pensar na loógica de que Deus é unico, é o mesmo pra todos, conhecido com outros nomes devido a cultura e tradição de cada povo...

    Otimo texto Minoru.
    Bjão

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  7. "O fator Melquisedeque" pra você.
    Você está certo (mas não basta estar certo em apontar um erro, se não se aponta soluções).
    Leia o livro. Nunca li. Mas é top.
    ABrazz

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  8. Concordo com o Vitor, e também com vc...estamos errados? Sim,porém não podemos deixar de demonstrar o amor de Deus nas nossas vidas, para que esse transpasse o nós, e os faça chegar mais próximo de Deus!

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