Bravia



Não é fácil sentir-se completo. Poucas pessoas atingem a sensação de total gozo e entendimento da sua existência. Isso porque poucos momentos têm a dimensão necessária para expressar o infinito e nebuloso motivo dessa existência.
Hoje, ainda que com minha sola do pé não muito gasta, concluo que não tenho mais o que perguntar à Deus. Delicado dizer isso, eu sei... Mas o motivo é que agora é clara à mim, a finalidade da minha vida. O método que usei para chegar a tal conclusão foi o “ eutrocaria? “. Simples. Sempre que sentir aquela calma celestial misturada com uma felicidade transbordante, quase que alucinógena, pergunte-se : “Eu trocaria esse momento por aquilo, aquele, aquela?”.
Assim, empiricamente, percebi que eu sou como uma televisão. Que só faz jus de existir quando está sendo usada. Ligada. Tomei noção de que quando não estou tocando, minha utilidade fica como que em Stand by. Talvez não inteiramente anulada, mas com certeza parcial.
No banho, me abalei com a importância que eu, rendido como um escravo de mãos e pés atados a uma bola de ferro, outorguei à Musica. Não apenas me apoiei mas construí toda minha vida e meus sonhos sobre esse único pé! Quando estou ligadosou o homem mais forte do mundo. Nada é forte o bastante. Nada é rápido o bastante. Nesses minutos eu não preciso buscar Deus. Porque eu transpiro Deus e logo molho minhas costas. Mesmo acordado, Ele me despe, me limpa e me nina num ritual materno. Lá mesmo no palco ou onde quer que seja. Todas minhas interrogativas se esfumaçam diante dos meus olhos. Deus fala por meio do meu contrabaixo. No mínimo fala comigo. O maior agrado que os céus poderiam me dar.
Mas o mais genial é que quando a televisão está transmitindo alguma coisa, ironicamente é o momento em que ela se anula. A mensagem em questão vem ao primeiro plano. A marca, os pixels e todo aquele mundo de ornamentos vanguardistas são desprezíveis.
Assim também somos osmúsicos diante de sua progenitora. Uma gaveta cheia de joias esquecida em alguma escrivaninha no meio do deserto. Mas uma gaveta plena e no clímax de sua existência. Amém.

Minoru Rodrigues Ueta Raphael

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6 comentários:

  1. Quase a perfeição! =}
    Gosto demais de ler...
    beijos

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  2. Genial Mi..dá pra perceber que é uma linguagem que vem da alma, você expressando a sua essência, a sua verdade..não tem como não se apaixonar pelo texto...não vejo outra pessoa o escrevendo, é vc.. continue assim exalando essas palavras que são doces para alma.....
    Beijos!!!!

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  3. Amei o texto, a força clara e abstrata ao mesmo tempo, dá definição a sua forma de escrever! "Mesmo acordado, Ele me despe, me limpa e me nina num ritual materno. Lá mesmo no palco ou onde quer que seja. Todas minhas interrogativas se esfumaçam diante dos meus olhos."
    Gostei desse trecho...
    Bjooo

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  4. É...bom, acho que já me expressei bem sobre o que achei dos seus textos (rs). Vim aqui pra dizer que estou lendo e vou continuar lendo, eles são lindos (o adjetivo mais sincero que encontrei). Acho que preciso me apresentar, é Bia de Rio Preto ok? ok então.

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  5. Minoru, estava pensando no que escrever no meu primeiro post, e li esse seu ultimo, que m,e deu uma base do que quero escrever, e também do que quero ser...bom, eu não escrevo tão bem quanto vc, mas entre no meu blog, e leia o meu texto, pois vc me ajudou em muito a escreve-lo...
    Beijos!

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  6. Que texto lindo, poucas pessoas tem essa sensibilidade incrível que vc expressa nos seus textos. Essa sensibilidade vem da alma..
    É a primeira vez que passo aqui no seu blog, mas vou continuar passando sempre.. beijo

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