Mais 100 coisas bonitas

A mulher da loja me perguntou o que eu achava bonito e eu acho que me perdi nos pensamentos...

  Acho bonitas as margaridas que têm uma pétala faltando. Me encanto quando as senhoras com mais de 70 anos se sujam de farinha. Gosto quando minha vó diz “Você adorava dormir aqui ó, na minha teta”. É bonito quando palavras “feias” saem com sentido de carinho. Os cheesecakes sempre me seduzem, mas quando eu peço, lembro que eles são mais bonitos do que gostosos, aí eu sempre me sinto numa pegadinha e isso também é bonito. Vidros de perfume, lombada recém pintada, janela de madeira... É tudo muito bonito.
  Acho incrível também quando eu, de carro, mudo pra faixa da esquerda e o carro da frente muda pra da direita ao mesmo tempo fazendo parecer uma coreografia ensaiada. As vezes eu nem ia mudar, mas mudo só pra acontecer isso. Céu de inverno é bem bonito. Cangurus-mãe e cheiro de pão em casa de madeira também. Se você reparar, quando cutuca uma fogueira sobem fagulhas que se confundem com as estrelas. E dá impressão de que elas sobem muito alto, mas na verdade elas já apagaram. Me emociono com o hino da marinha narrando a “brava galera em noite apagada”, e com a paixão dos metaleiros que vestem a camisa do Iron Maden com glória e respeito.
  Pele negra no biquíni amarelo, o colo do seio, mulheres mais instigantes do que insinuantes... Sou desses que ainda aprecia mulheres vestidas.. Gosto de casais que se entreolham e conversam assim, sem que ninguém entenda. Gente que se atrasa por ter dado um beijo demorado. Namorado esperando na sala e ficando sem assunto com os pais da moça que demora e acha graça.
  Acho bonito alguns problemas trigonométricos. Gente que empresta a cama e dorme no chão. Propaganda de cartão de crédito, meia branca, gente que canta parado, escrever à lápis. Bonito é optar por não conseguir sozinho; dizer que estava errado e mudar de opinião. As vezes a chuva me acorda com gotas em tercina de colcheias na calha do vizinho e eu não durmo mais porque é como uma valsa infinita. Quando algum aluno toca a música preferida logo na primeira aula e nós dois ficamos tão felizes que até ficamos com vergonha alguns segundos depois. A cena de um homem segurando um buquê em frente de uma porta. Nossa... neste momento todas as nossas posses e conquistas não valem de nada, e somos simplesmente reduzidos a um punhado de Esperança e Vontade. É bonito ver como todos os homens se tornam iguais quando estão na porta do banheiro feminino esperando.
  Acho bonito como os balconistas de padarias me fazem pensar que somos amigos de infância, e na verdade nem somos. Recado no espelho; ambientes à meia luz e abajures de luzes indiretas. Vinho na taça certa, criança com espuma de shampoo. Tem também quando a grama perfeitamente cortada do campo de golfe faz divisa com uma parte de mato selvagem. E quando você liga o desembaçador do carro e a parte embaçada do vidro vai recuando como uma nuvem dando ré! Todo homem deveria ao menos uma vez acompanhar todas as etapas de uma mulher se arrumando, e entender como cada passo faz todo sentido de acontecer naquela ordem. E fazer isso sem pressa, como quem tem paz para ouvir músicas longas sem tirar...

  Esse texto não tem fim, e porque ele é assim, fica mais bonito ainda..








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