O dia que eu chorei no restaurante




O Fato: Eu estava com a minha família num restaurante e o homem entrou. Ao vê-lo, perdi as palavras e chorei. Chorei como fazia tempo que não corava em público.










Optar por ser músico, definitivamente não é uma coisa simples. E como em todas as escolhas difíceis, a decisão deve ser baseada em muita pesquisa e conselhos de pessoas que valem a pena. Tive o privilégio de nascer em uma família que me permitiu ter a Arte como opção, e com a ajuda de professores inesquecíveis do colégio, ousei. Mas a música demanda preparação em habilidades muito específicas e, mais do que isso, psicológicas e comportamentais. Para isso, saí atrás dos melhores nomes e essa busca me levou até Celso Pixinga, a técnica de slap mais rápida do mundo (revista norte-americana "Down Beat", anos 80’). Foi aí que tudo começou..




Dos desafios de um professor, sem dúvida o menor deles é ensinar a sua matéria. Fazer com que alunos saibam dados históricos, não pode ser o objetivo principal de um professor de história, mas o mínimo de seu ofício. O básico e obrigatório a alguém pago pra isso. O desafio mesmo é gerar a paixão pelo estudo, a redenção da Arte, fomentar a pesquisa e entrega voluntária de tempo! Mudar um estilo de vida com seus pressupostos e valores. Um professor de verdade é um mestre que “ensina paixões”. E era para me encontrar com um desses que eu pegava mais de 4h de transporte público até a Escola de Música e Tecnologia para ter 30min de aula. O módulo de 2 anos, terminei em 6 meses. Ele saiu da escola e eu saí junto, afinal, seguia um homem e não uma instituição. Continuei as aulas na casa dele até que me aconselhou fazer uma faculdade. Depois de certa teimosia, fui. Passei.




Na faculdade conheci muitos músicos muito melhores do que um dia eu conseguirei ser. Conheci alunos que se tornarão professores muito mais capacitados e criativos do que sou. E na selva de concorrências que era aquilo, fui sobrevivendo me utilizando das recomendações daquele mestre. Quantas aulas ele insistiu em me dar conselhos e contar histórias, mesmo diante da minha afobação por conteúdo prático... Quantas verdades sujas eu soube e quantos puxões de orelha.. Ele se preocupava não apenas em lapidar minha música, mas em formar uma arte íntegra em mim. Nunca esquecerei de um dia em que ele me deu um baixo de presente! Me ensinando assim que os esforços devem ser reconhecidos, recompensados e comemorados! E que os professores devem investir em seus alunos! Anos depois eu também tive o privilégio de presentear um aluno meu com um baixo, à exemplo do meu mestre. Foi uma sensação indescritível de prazer e fechamento de um ciclo perfeito e infinito.




Eu poderia ficar aqui uma noite inteira alongando este texto. Poderia discorrer sobre como aquelas aulas mudaram o meu hoje, como ajudaram a moldar meu caráter profissional. Como aquele baixo que me foi presenteado mudou a maneira de apostar em meus alunos... Como hoje me sinto apaixonado pelo que faço.










Foi só isso. Só esse cara que entrou no restaurante aquela hora...

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2 comentários:

  1. Hahaha lindo!

    Entao, fiquei esperando vc dizer que foi abraçá-lo.

    Ele é dessas pessoas que
    Nos crescem.



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