Yoani, minha opinião.


  A qualquer leigo como eu, a primeira impressão do assunto Yoani é:
“A musical Cuba, múmia da Guerra Fria, esquecida pela antiga União Soviética agoniza os desdobramentos de sanções econômicas norte americanas. Por conseguinte, a realidade atual ultrapassa os caricatos carros antiquados, passando por coação da opinião popular e uma série de fatores que, em nada se assemelham ao gosto do melado da cana cubana. Neste cenário, uma blogueira de aparência angelical sorrateiramente escapa das garras da ilha e corre para o mundo aqui fora, como numa tarefa messiânica, gritando as verdades de um povo cativo. Fim.”
  Pois é, mas de repente algumas peças não foram se encaixando nessa história hollywoodiana. Por exemplo, segundo Tainá Vaz (28), brasileira estudante de medicina e residente em Cuba há 6 anos, Yoani Sánchez não é nada conhecida por lá. A explicação da jornalista é que seu blog é bloqueado em seu pais, informação essa comprovadamente negada por jornalistas NÃO CUBANOS, que acessam periodicamente o site em território cubano. Ué...?
  Outra coisa estranha: Numa entrevista ao jornalista francês Lamrari (dada no saguão de um hotel ali, no centro de Havana! O que é surreal numa terra supostamente hostil em se tratando de expressão de opinião), é questionada “Como a senhora explica que o presidente Obama tenha separado tempo para lhe responder uma carta apesar de sua agenda extremamente carregada, uma crise econômica sem precedentes, a reforma do sistema de saúde, o Iraque, o Afeganistão, as bases militares na Colômbia, o golpe de Estado em Honduras e centenas de pedidos de entrevista dos mais importantes meios do mundo?” Ela responde: “Sorte...”. É... estranho mas, ainda acho que dizer que ela tem ligação com a CIA é uma suposição muito vaga, distante e improvável.
  Vendo seu histórico de premiações (prêmio de Jornalismo Ortega y Gasset (2008), o prêmio Bitacoras.com (2008), o prêmio The Bob’s (2008), o prêmio Maria Moors Cabot (2008) da prestigiada universidade norte-americana de Colúmbia, foi uma das 100 personalidades mais influentes do mundo pela revista Time (2008), em companhia de George W. Bush, Hu Jintao e Dalai Lama, e mais) resolvi continuar procurando onde estavam as explicações para os “fatos estranhos”. Só uma ressalva, muitos desses prêmios tem como corpo de júri jornais, instituições e personalidades contrários a Cuba. O jornal espanhol El País por exemplo, tem uma linha editorial totalmente hostil a Fidel. Mas continuemos...
  No dia 6 de Novembro de 2009, Yoani afirma ter sido sequestrada sob as mais cruéis agressões. Em seu blog “Generación Y” fala de: “golpes e empurrões”, de “golpes nos nós dos dedos”, de “enxurrada de golpes”, do “joelho sobre o [seu] peito”, dos golpes nos “rins e [...] na cabeça”, do “cabelo puxado”, de seu “rosto avermelhado pela pressão e o corpo dolorido”, dos “golpes [que] continuavam vindo” e “todas essas marcas roxas”. Acontece que 72h depois, numa entrevista para a imprensa internacional, todas as marcas haviam DESAPARECIDO! Imagine que quando damos uma topada na mesa de centro o dedo já dói por dias..
  Vale dizer também que seu blog tem 10milhões de visitas por mês e é traduzido para 18 línguas, ultrapassando sites das mais importantes instituições internacionais, como as Nações Unidas, o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE, e a União Europeia, ninguém dispõe de tantas versões de idioma. Nem o site do Departamento de Estado dos EUA, nem o da CIA! Ok, ainda continuo.
  Interessante: Também começo a entender que seu estilo literário tem papel indiscutível nas polêmicas internacionais. Quando se usa figuras de linguagem como “o barco que faz água a ponto de naufragar”, os “gritos do déspota”, “seres das sombras, que, como vampiros, se alimentam de nossa alegria humana, nos incutem o medo por meio da agressão, da ameaça, da chantagem”, ou “naufragaram o processo, o sistema, as expectativas, as ilusões. [É um] naufráfio [total]“, entendo que FACILMENTE podem ocorrer erros de tradução decisivos no nascimento de desavenças. Metáforas sempre foram perigosas, talvez pela proximidade com as ironias e sátiras. Ela se defende dizendo que querem radicaliza-la e que “ gera incômodo o fato de eu ter um comportamento que rompe com o arquétipo do opositor”. Faz todo sentido, embora francês e espanhol (línguas das reações contrárias mais ásperas - Jornal Espanhol ABC por exemplo) não se distanciem tanto morfologicamente a ponto de permitirem erros muito gritantes. Todas são línguas latinas assim como português, italiano, romeno e uma série de outras línguas românticas.
  Colocações e explicações usadas para legitimar algumas de suas atitudes também soam bastante subjetivas, insuficientes e por vezes desrespeitosas ao entrevistador, como por exemplo quando respondeu sobre sua volta da Suíça para Cuba dizendo “gosto de fazer coisas incomuns". Pessoalmente, acho que alguém nesta condição, com esta influencia e numa situação delicada como esta não pode se dar ao luxo de algumas “traquinagens”. Por várias vezes em minha pesquisa sobre este assunto encontrei essas respostas “brincantes” sendo usadas para sair de perguntas que ela não respondeu, ou respondeu usando dados errados que rapidamente foram rebatidos por jornalistas muitas vezes indelicados.
  Fato: Mesmo contra Wayne S. Smith, último embaixador dos Estados Unidos em Cuba, quase 55milhões de dólares já foram gastos pelos E.U.A. no “Fundo de Ajuda aos Dissidentes”. Em outras palavras “pago em dólar para quem fugir daí”. O governo Cubano fica louco com isso, mas parece esquecer que quando a África do Sul invadiu a Namíbia, Cuba interveio para defender a independência deste país! Nelson Mandela até agradeceu publicamente Cuba e esta foi a razão pela qual fez sua primeira viagem a Havana! É a mesma coisa, só estão do outro lado agora! Com relação a isso discordo de Yoani quando se mostra mais uma vez complacente com E.U.A. dizendo “O problema não é quem pede as mudanças, e sim quais são as mudanças em questão.” Não! Penso com a mesma lógica da “rebelião do Egito”, todo o mundo pode sim ajudar quem quiser, desde que a mudança seja iniciada pelas “vitimas”. Não sendo assim, o mundo todo será gradativamente transformado segundo a cultura dos países mais poderosos!
  Com relação as sanções econômicas americanas ela as resume em “desculpas usadas pelo governo para continuar a ditadura”, eu rebato com uma frase do jornalista francês Lamrani “Se são só desculpas, porque os E.U.A não param e deixam cuba se afundar nos seus problemas mostrando que não tem culpa de sua situação, mas sim a má politica interna?”
  Por hora, sei que não estou nem perto de entender toda esta história e talvez nem tenha capacidade para isso. Todavia, concluo algumas coisas:
1-    Yoani Sánchez não é nem de longe uma Zumbi dos Palmares cubanos como eu pensava. Não representa uma voz unanime e tão pouco reconhecida por todo seu povo.
2-    Seus objetivos, assim como seus meios são misteriosos, questionáveis e por vezes contraditórios.
3-    A despeito de tudo, TODO HOME DEVE TER O DIREITO DE FALAR O QUE PENSA. E NO EXERCER DESTE DIREITO, NÃO CABE A MIM ACEITAR, JULGAR OU MESMO ENTENDER. DEVO APENAS LUTAR PARA QUE SEJA DITO, O QUE FOR, POR QUEM QUER QUE SEJA.

O garimpo continua...

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4 comentários:

  1. Minoru,

    Uns dias atrás quando você postou no twitter que gostaria de conversar com alguém contrário a Yoani, eu fiquei com muita vontade de responder, mas hesitei. Acompanho o blog da moça desde o início, e sempre achei o ativismo dela muito tendencioso. Hoje eu acho que o mundo não precisa ver Cuba. Cuba é que precisa se ver. E Yoani não parece querer isso. Mas como a linha entre o parecer e ser é bem tênue, o que eu disse é só uma intuição.


    Mas o que eu quero dizer é que, ao ler seu texto, notei que suas palavras vieram de encontro as palavras que eu me senti intimidada a escrever.

    Muito bom garoto.

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  2. “Yoani frizou que seu blog não é mais bloqueado em Cuba, "como foi de 2008 a 2011", mas que o governo monitora tudo e que donos de estabelecimentos onde seu blog é acessado sofrem represálias, como perder licenças e acesso à internet por determinados períodos.”
    (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/02/apos-uma-semana-em-viagem-pelo-brasil-blogueira-cubana-deixa-o-pais.html)

    Minoru,

    Resta saber qual o período em que os tais "jornalistas NÃO CUBANOS” afirmam ter acessão o blog dela em Cuba. Se for anterior a 2011, alguém está mentindo.

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  3. Ótimo texto, adorei.
    Sadam Hussein era considerado pelos EUA um ditador, seu país foi invadido e ele destituído.
    Fidel Castro era considerado pelos EUA um ditador, seu país só sofre embargo. Se o povo cubano estivesse tão infeliz, seria fácil os EUA vencer a guerra ideológica e criar uma contra-revolução efetiva, não?
    Lembrando que a ilha está "grudada" no litoral americano, é pobre e pequena. ;-)

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  4. Kassia : muito obrigado! E da próxima vez nao exite!

    Isac: nossa! Informação importantíssima! Obrigado!

    Erika: é exatamente isso!

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