ONG & EGO, uma dupla sertaneja

   Existem males que vem para o bem. Disso todos sabemos. Mas ando percebendo que também existem males que vêm PELO bem. Sim, equações de elementos bons, mas que geram produtos ruins, nocivos. Desfavores.
  Revendo muitos de meus pressupostos e agora analisando atenciosamente o comportamento de algumas pessoas que “fazem o bem”, percebo o quão perigoso PODE ser a filantropia, ou participar de uma ONG, ou ajudar aos pobres com ligações 0800 por exemplo. Explico-me:
  Executar qualquer tarefa classificada como “louvável!” pela sociedade traz consigo muitas vezes uma autoridade e respeito inventado. No mínimo inflado. Me refiro a pessoas que, por montarem cestas básicas, doarem livros e roupas velhas, ou construírem cabanas seja lá pra quem, munem-se de uma respeitabilidade imaginária. Firmes e confiantes, -afinal são semi-anjos na terra-  falam com autoridade sobre aqueles que imaginam não fazer nada. Sujos de terra tiram fotos com as criancinhas magras e postam em redes sociais como quem passeou em um safari. Altivos de merda.
  Veja bem, o que estou falando é facilmente crucificado à primeira vista. Mas vasculhemos lá dentro em nossos corações, é esse “orgulhinho” a que me refiro. Sejamos francos. Sei da importância – obvia- de toda e qualquer iniciativa que vislumbra a equiparação, mas aqui apenas sugiro cuidado. Quem bate no peito em público dizendo “tenho orgulho de ser um voluntário, olha aqui quantas maravilhas!” possivelmente não entendeu nada. Então nasce uma “modinha do bem” que faz chegar até mim comentários como “As vezes parece que é uma aventura pra eles, mas é só a minha vida, entende?” ou também “Sábados eles vêm, salvar nossas vidas com seus ipods nas orelhas”. Está dando pra entender que não faz sentido a frase “mas pelo menos nós fazemos alguma coisa!” (imagine aqui uma criança de 10 anos mexendo a cabeça lateralmente enquanto fala com o queixo irritantemente mole). Não convém aquecer corpos frios se com isso a dignidade for roubada. Não convém dar livros ou teto se nesse processo o que mais cresce é a vaidade. Não convém dar de comer e para isso alguém se tornar um alimento, para o ego.
  Você não vai para o céu por mérito. Lembro então de crentes que, sob o aval divido, maltratam os gays em comentários. Pessoas que dizem que doentes não foram curados por falta de fé. Gente que com a permissividade desgovernada que ao “benfeitor” é outorgada, se faz CRUEL sem saber. Involuntariamente.
  Desculpe, só cansei de tanta hipocrisia. Mas se nada disso faz sentido algum, por favor ore por mim, pois estou ficando completamente maluco e alienado.
Paro por aqui, sem mais. O resto, com um copo de água eu engulo com um remédio para dormir. 

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6 comentários:

  1. Até que enfim! Desculpa, mas é isso mesmo.

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  2. Algumas dessas pessoas caridosas, assim como aquelas que postam fotos de cachorros atropelados, bebes no lixo, geralmente não passam disso. Uma imagem.

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  3. Que saudade daqui. Que delícia aqui.

    Não tenho nem o que falar, complementar. Concordo em tudo, e, sei lá, meus olhos sempre são molhados - como agora -, por gente assim, com amor.

    Sensacional!

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