Tesão na igreja




Uma coisa vem me incomodando muito, explico:
  Vivemos hoje a ante-sala de uma reviravolta, o aquecimento inevitável e incontrolável de uma panela que já está praticamente estourando. O “esquenta” da maior noite que já aconteceu, a aproximação assustadora da “igreja pós-moderna”. Vivemos uma entressafra de opiniões diametralmente opostas, velhos membros e membros jovens. Um período complicado. Os jovens não aceitam mais as doutrinas das igrejas. Difícil hoje achar alguém que se enquadre fielmente nos empoeirados dogmas que outrora eram legítimos. E como não se encaixam, ficam com segredinhos e fofoquinhas sobre “o que fazem e não pode” -E VOCÊS SABEM DO QUE ESTOU FALANDO- é bem infantil. Não nego a importância do que veio antes, mas com todas as minhas forças suplico pela ressignificação de tudo!
  O que mais vejo são jovens lutando por guerras que não são mais deles, questões que outrora eram novidades e desafios, mas que agora são ultrapassadas para uma nova geração. Aí fica aquela mentira toda de ir a igreja e cumprir os protocolos sem nenhum tesão. Desculpe a maneira, mas é assim.
  Francis Shaeffer em 1970 já escrevia em “It’s a Different World” (Nashville pp.20) dizendo: A maior injustiça que se pode pedir a um jovem é pedir que ele seja conservador. O Cristianismo não é conservador, mas revolucionário. Ser conservador é não entender o principal, pois o conservadorismo significa permanecer na corrente do status quo, e isso não mais nos pertence.”
  Hoje apareceram problemas que antes não existiam, e antes existiam problemas que agora estão resolvidos. Assim: Um monte de gente na fase mais excitante da vida sendo tolhida por pressupostos que elas não acreditam, afinal foram feitos por líderes despreparados para hoje e consequentemente, indo a igreja sem o tal tesão. Estou sendo claro? Cada vez mais as pessoas pertencem a uma comunidade não pela teologia, mas pelo relacionamento. Isso não é errado, mas então cortem a cerimonia e aproveitem duas horas a mais comendo pizza e rindo!
  Veja bem, não estou falando que precisamos de pastores de jovens falando gírias, nem se pintando, nem usando fantasias, nem de extravagâncias em público e muito menos aqueles que falam “vamos bombar”. Também não me refiro a uma revolução ao estilo Marcha pra Jesus, aquilo além de atrapalhar o transito da cidade é coisa de preguiçoso.
  Explico: Precisamos de gente disposta a estudar história, filosofia e teologia. Gente que entenda que a aflição dos grupos marginalizados é atual e crescente. Gente que saiba que não basta acordar as 3am para orar para um copo dágua, mas é preciso tomar chuva e distribuir currículos. Gente que se interesse em entender verdadeiramente as ideias opostas a sua, para então formular argumentos que tenham conexão com a realidade. Gente que entenda que namoro sem sexo apenas por dogma matrimonial, gera crentes sexualmente imaturos e que vivem numa puberdade eterna achando livros como “50 tons de cinza” o máximo. Precisamos de gente que se debruce em livros a procura de saídas para agora. Chega de pregaçõezinhas com piada na entrada, 4 pontos no meio e apelo com violãozinho de fundo no final. O cristianismo é sóbrio, como toda escolha verdadeira.
Mais fácil marchar para Jesus uma vez no ano e ficar livre né?
  Brian McLaren sugere em seu livro “A Igreja do outro lado”  (pp.35) mudanças em vários âmbitos. Não vou explicar aqui para te dar a chance de já começar hoje alguma coisa.
  Empolgado com os incentivos, reabro agora o Quilombo. Lugar de pessoas que não tem certeza de nada, apenas do amor de Cristo. Bichos pensantes. Apaixonados pela possibilidade da história bonita, e que querem fazer parte de uma mudança interna relevante. Aceitamos quem possa nos ensinar teologia, culturas, histórias e estórias. Isso não é uma bandeira, mas um encontro de pessoas visceralmente apaixonadas pela vida e que não sossegarão até que a dignidade chegue ao outro. Em favor de uma igreja mais bonita, entre em contato. Se não faz sentido, redobro o convite. 

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5 comentários:

  1. Na imagem, cristãos numa passeata gay se desculpando pelo tratamento desrespeitoso que algumas igrejas estão tendo com eles. Não é incentivo, é respeito.

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  2. Cara, parabens! De verdade! Vc consegue expressar com palavras um sentimento que pra tava difícil de pôr pra fora. Vc tem uma sensibilidade acima da média. Fico mt feliz de ver pessoas, próximas, que pensam assim e tentar mudar a realidade. Tamo junto batalhando por uma sociedade mais digna, por uma vida salva na terra...

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  3. Minoru, você sabia que Francis Shaeffer, tido como revolucionário (e foi de fato) tinha uma teologia conservadora, tradicional e calvinista!

    Vejo muita gente citá-lo com relação à postura que o cristão deve ter em relação ao mundo, causas sociais, etc e etc, mas pouca gente cita que essa postura revolucionária estava toda baseada numa teologia que é "empoeirada" para alguns e revolucionária para tantos outros.

    Ainda acho que falta muito equilíbrio nas posturas das pessoas dentro da igreja. E a excelência é a busca dessa constância.

    Até mais, Marcos.

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  4. Perdi as contas, de quantas pessoas indiquei esse texto. Confesso que me deixou inquieta, li pela segunda vez devagar, interpretando cada trecho; e assim nada mais justo do que partilhar, para alcansar outros pensamentos. Parabéns pelo ponto de vista.!

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  5. Eu ainda me coloco num lugar calmo e coerente quanto a isso. Não é lugar de conforto ou de descanso. É caverna, é jardim de choro, é no fundo do barco. A tempestade que vem, poucos estão vendo. Alguns se aventuram de modo tão insano, tão pseudo intelectual, tão néscio...

    Admiro e leio alguns como McLaren, pois estão me colocando em crise. Isso dói. Mas ainda não os abraço, como não abracei outros. Que em tudo isso a igreja lembre-se que ela nasceu sendo subversiva. Nasceu de absolutos e nasceu de eternidades. Que ela é mais que um conjuntinho de aceitações argumentativas e posturas "pós-modernas e líquidas".

    Parabéns pelo grito.

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