O maior elogio que se pode receber.


Outro dia, sentados na calçada, meu avô e eu conversávamos sobre qual era o maior elogio que alguém poderia receber. Na verdade só eu falava. Ele me ouvia com aquela cara que ele faz quando já tem uma resposta muito melhor, mas me deixa desenvolver até o fim, só para depois eu ter mais material para comparar e ver como ele estava certo. Isso é uma brincadeira bem dele, o primeiro dos Minorus.
Prolixamente, como convém a um neto, garimpei todas as classes de adjetivos que eu conseguia lembrar. Explicativos, restritivos, locuções adjetivas, poéticos, não-poéticos e quando não tinha mais nem superlativos que vencessem aquela cara de “já ganhei”, eu desisti.
-Simples, ele disse.
-Ok. Qual é então?
-Esse! “Simples”! Este é o maior adjetivo que alguém poderia receber.
-Óbvio que não! Eu prefiro muito mais “inacreditável”, “inalcançável”, “celeste”, “incorrigível”, ou mesmo “Ideal”. Talvez até... “Perfeito”?
-Todos estes adjetivos trabalham dentro do campo de possibilidades imagináveis pelo sujeito adjetivado. Em todos eles, por menos prepotente que se possa querer parecer, é possível sonhar, fantasiar, considerar onde está um determinado topo e lá, naquele lugar, entender que este “elogio maior” o colocaria. Trata-se de um topo tangível, por mais distante que seja. Quando alguém diz que o outro “é simples”, e claramente não se trata de uma classificação socioeconômica, os parâmetros vão para outro plano, acolá das medidas possíveis do elogiado. O que ele está querendo dizer é: Pela minha balança, suas qualidades, seus talentos, seus encantos e interesses te agregam um valor que fazem de você uma possibilidade imensuravelmente maior do que você se permite aparentar ou mesmo imagina merecer ou atingir. Ainda que fosse deselegante, toda e qualquer forma de arrogância, orgulho, altivez ou sobranceira seria justificável para alguém de sua altura e competência. Mas, a despeito de tudo, à mim, parece elegantemente menos do que podia. Ou simplesmente, “mais simples do que realmente é. Por ser muito mais”.
-Eita... entendi.
E a competição acabou assim, sem réplica e com ele me sorrindo à sumir com os olhos.

Ao meu avô, um homem... simples.

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2 comentários:

  1. Esse é o meu tio e padrinho, quem já tinha essa sabedoria de avô desde que eu era pequenina. O mais bonito é que ele tem a sabedoria de ditchan e sabe transmiti-la de forma simples.

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  2. Perfeito, mano... Queria conhecer seu avô. Ele parece ser um cara sensacional e, como você mesmo disse, simples. =)

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