Nunca dispute com a Lua.

Concorrência Desleal

Sob a candura e conforto do céu angelical, numa noite tecida à mão e salpicada pontualmente de estrelas não aleatórias, mas estrategicamente dispostas pelo artífice Soberano, eu observo. Observo de longe, mas, perto o bastante para entender a submissão daqueles olhos nunca antes tão perplexos como agora. O teto negro e opulente do mundo rouba toda sua atenção. Hipnotiza. Tem-te nas mãos com a superioridade absoluta,  mais que maternal. Eu observo. Cada corpo celeste exerce como que um relógio a pendular nas mãos de um mágico, te roubam do agora e te levam para algum lugar que eu apenas almejo. Eu observo.
  E num fim tétrico, eu invejo a noite. Murmuro interiormente palavras feias e disformes. Atitude feia e baixa, mas condizente com meu desespero e tamanho. A invejo pois, não sou parte do seleto grupo de coisas desse mundo que com um dom desconhecido, com naturalidade te roubam do agora.
Não nego outros dons que talvez tenha eu recebido de Deus. Não. Apenas rumino incansavelmente dentro de minha pequeneza o fato de não ter essa tal aptidão perfeita. Por isso apenas observo. Invejo.
Não Tenho luzes ou pontos refletores que te ajudem a andar na noite. Não posso resfriar seu sono com sopros de seda e tão pouco tenho capacidade para cobrir o mundo com um lençol preto, guardando este até que acordes no dia seguinte. Não tenho, ainda que com minha tenra música, o poder de repousar os animais ou saciar a sede das plantas.
No fundo, sereno e leve na voz, quedo aliviado. Não é a noite uma pessoa de carne. Eu, homem, não agüentaria tamanha concorrência desleal...

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2 comentários:

  1. Muito bom seu texto Minoru. Adorei. Expressa tudo e muito mais do que cada um já possa ter pensado sobre a Lua e a noite.
    Parabéns!

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  2. "Bom pensar, que em meio a correria deste mundo louco, onde não se para, não se observa, em que as coisas belas e encantadoras, que estão bem debaixo de nosso nariz, são passadas batidas, alguém possa olhar pra lua e possa dizer coisas tão verdadeiras, tão sensíveis..Parabéns Minoru.. Dá pra perceber que são palavras vindas da alma.. emocionante!!

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