Cuidado com a Igreja!




A Igreja é a reunião de pessoas. E pessoas interagem com seu meio, refletem e influenciam seus contextos, por isso mudam com o tempo. Logo, a Igreja muda num processo infinito e indomável. Essa condição, à longo prazo, gerou inúmeras denominações, variações de ortodoxia (“crenças corretas”) por vezes antagônicas. Resumindo: é uma porrada de gente, cada um pregando o que quer, de acordo com suas interpretações convenientes.


Já atentava o mestre Paulo Brabo (ou Søren Kierkegaard, quase 200 anos antes) que somos cara-de-pau o suficiente para buscarmos a igreja que mais se acomode a nós, que menos nos encurrale à mudança. Vamos aparando as arestas teológicas até que não incomodem nossas fraquezas. Sei colocar tantas denominações cristãs em ordem de evolução seria uma prepotência irresponsável, mas me permito aqui organiza-las da seguinte maneira, e você há de concordar: A Linha da Responsabilidade.


O desenho representa o percentual de responsabilidade de Deus e do Homem que cada igreja opta por convencionar. As linhas verticais laterais (amarelas pontilhadas) representam o nível de responsabilidade. Abaixo, as letras de A até H, representam diferentes igrejas com suas diferentes distribuições de responsabilidade. Então vamos lá.


Dificilmente alguém busca uma relação com o divino por estar com a vida em ordem. Nunca ouvi quem dissesse “Estou rico, com saúde e com família. Vou procurar uma igreja para frequentar”. Geralmente é na hora da aflição que isso ocorre, talvez por isso seja tão comum adentrar no mundo evangélico pelo lado esquerdo da linha, o da Fantasia (igreja A). Nesta “Disney Santa” aquele que sofre recebe um fôlego quando a culpa e a responsabilidade de tudo é de Deus. Estes dizem frases como “é porque Deus quis assim”, ou “Deus dá, Deus tira”. E assim eles consolam mães que perderam filhos em tiroteios, justificam o fracasso em vestibulares, explicam demissões e o que mais precisarem. Tudo é Guerra Espiritual e o que acontece aqui embaixo é consequência do quebra-pau lá de cima. Eles nunca estudaram menos do que podiam, nunca são a parte “defeituosa” do relacionamento e muito menos os menos competentes na disputa pela vaga de emprego, afinal, Deus está no total controle de tudo.


Não são poucos os motivos que fazem alguém migrar gradativamente para a linha amarela da esquerda, às margens do ateísmo (igreja H). Há quem comece a estudar teologia e perde a fé, há quem se traumatize com as canalhices muitas vezes assistidas no púlpito, ou mesmo aqueles que começam a aceitar que “não, eu também tenho minha parte de culpa nisso tudo”. Esse processo muitas vezes é burro e violento, como todo radicalismo. A pessoa que só aceitava ir à igreja de paletó, agora proíbe o paletó nos cultos! É igualmente xiita, mas às avessas. Trata-se aqui de pessoas altamente confiantes, autossuficientes e, não raras as vezes, desbocadas. De tanto pensarem que a vida é feita de acaso, e apenas dele, já não tem mais assuntos em suas orações. Fecham o olho para orar e pensam: “isso não pode”, “opa! Isso não”, “ixi, isso eu que tenho que resolver” e vão se afastando até flertarem com a infinita rifa do ateísmo e suas meras casualidades eventuais...


É muito difícil afirmar qual é a posição mais “saudável” para uma igreja se estabelecer. Até porque, neste caso, o famoso meio termo (igrejas D e E), não necessariamente representa a melhor opção para todas fases de vida que uma pessoa pode se encontrar no momento. Penso que a saída é sempre ter esse assunto em mente e repensa-lo sempre. A Lucidez não pressupõe o ateísmo, assim como na Fé não se subentende a ignorância e irresponsabilidade.




Seja aqui dentro, ou lá fora, cuidado.

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4 comentários:

  1. https://soundcloud.com/vitorkivitz/o-ultimo-cristao

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Leio todos os seus textos, admiro muito e gosto da forma que você encena a vida, continue!

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  4. Muito obrigado Eduarda Letícia!
    Isso é muito importante para mim. Obrigado pelo seu tempo aqui.

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