Carta à Luz

 11 de Dezembro de 1955, Cidade Luz.

  Sob a luz de um candeeiro escrevo aos amigos que ainda não fui apresentado. Deste quarto pequeno e abafado nos arredores de Paris, escrevo a respeito da Luz, e a despeito da falta dela.
  Para que algo fique claro não é preciso que outro se apague. As luzes não vencem, elas apenas acendem. E porque apenas acendem é que acender é tudo que elas tem de melhor. Levam a visão ao que antes era apenas tato.
  Sejam sim luzes aos que lhes cercam, mas saibam que existem entressafras de breu das quais nem os iluministas mais ávidos se esquivam.
  Saibam que as velas são como as flores, frágeis. E que ainda que maternalmente cuidadas, um dia acabarão. E isso é bonito.
  Antes de qualquer decisão, calculem. Para que toda chama se sustente algo deve ser queimado. Para que eu escreva agora, a vela de minha escrivaninha está a abrir mão de sua vida. E o faz por mim. Escrevo então letras apressadas que competem com as últimas lágrimas de querosene desta que me permite. A qualquer momento a luz pode se apagar. Logo, sou breve e objetivo, excitado e atrapalhado.
  Avante! Avante! Reguem e gozem o sonho que não veio ainda. Felizes dos que fazem isso pois até os reis mais absolutistas se ajoelharam diante da avalanche iluminista. Déspotas esclarecidos, por mais poderosos que sejam não venceram o sonho parisiense. Nada vence um sonho. Sonhem. Sonhem cada vez mais! E sonhar cada vez mais não é sonhar cada vez maior, é sonhar mais. Sonhem com as pessoas que estão ao seu lado. Mais do que isso, reservem um dia na semana para sonharem PARA alguém. Fechem os olhos e pensem, pensem, pensem no sonho do outro. Durmam assim... Isso ilumina.
  Por último, aprendam que existe prazer também à meia luz, ou na ausência dela. Nada acende sozinho. A palha seca com o Sol, a pólvora com a faísca, o fumo com a madeira... E isso é bonito. Sejam luz junto.
  Acendam. Ascendam. De graça.

Raph D’Alembert

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2 comentários:

  1. Meu agradecimento a organização do 1° Saral do Coletivo âncora pelo carinho comigo.
    Minha participação. Tema: LUZ

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  2. Sem palavras Sr. Raph...sem palavras.

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