Céu, picanha e a minha avó.



  Essa noite eu tive um sonho. Sonhei que, de alguma maneira natural eu apareci no céu. Estava bem e em paz. Rapidamente tirei os sapatos e as meias para se parecer mais com o que eu sempre pensei. Revi amigos que não estavam mais na Terra e parentes desses amigos. Olhei algumas árvores ao redor e realmente todas as frutíferas estavam carregadas de frutas à envergar os galhos, e de flores aquelas que só dão flores. Lembrei dos desenhos na escola dominical.
  A grama era verde como no Windows XP e mais para a direita havia até aquele “morrinho” parecido. Os pássaros eram coloridos e tinham rabos parecidos com longas rabiolas de pipas celestes. Apanhei uma tangerina de um galho próximo e rapidamente o mesmo foi reposto. Foi assim o resto dos dias... cheio de experiências platônicas e idealizadas.
  No paraíso não havia noite, pois ninguém se cansava. As árvores estavam sempre floridas e ninguém falava palavrão. Um ventinho fresco parecia constantemente acariciar o horizonte lá de longe até meus pés.
  Passado algum tempo, ao longe vi duas pessoas novas. Estavam atrapalhadas assim como eu estava quando outrora, era eu a novidade. Fui até elas e fiquei eufórico quando percebi que eram minha avó e meu amigo Vitor. Soluçante eu queria correr e mostrar tudo! Desde as fontes de Fanta até o vale onde ficam aqueles cavalos que tem asas e um chifre na testa. “Venham ver! Venham! Vocês vão adorar!”
  -Poxa amigo, como isso é fabuloso!.
  -...ok. -Exclamação no mínimo diferente, mas tudo bem-.
  Seguimos o dia comigo parecendo um guia turístico e então veio outra coisa estranha.
  -Haha seu menino peralta! Você é uma figura. Foi o que minha avó respondeu quando eu dei o meu tradicional tapa na bunda dela.
  -Para tudo! O que está acontecendo aqui?! Cadê o “porra meu que da hora! Vamo nada pelado nessa merda!”, e o “seu merdinha, vou apertar tuas bolas até elas estourarem se você fizer isso de novo!” Cadê?! Porque eles dois estavam tão diferentes e porque o Vitor estava comendo uma barrinha de cereal integral?! Deus do céu... o que está acontecendo?!
  Foi então que uma pomba branca, que eu já havia visto varias vezes mas que nunca me parecera tão irritante como agora, veio e me disse: "Poxa Minoru, não está feliz? Eles foram consertados! Aqui não há mais palavrão, ou discórdia ou choro! Não reparou?”
  Olhei acerca de mim e vi muitas pessoas. Todas com sorrisos, flores nas mãos e uma até amarrava o cadarço de outra aqui na esquerda. Não sei o porque mas aquilo começou a não ser tão legal. Tudo era lindo e perfeito, mas... mas não era humano. Não era natural. Olhei para o meu amigo e disse “Porra Vitor, e essa barrinha ainda é light! Me dá isso aqui!”. Olhei para minha avó e disse: “vó, volta!”, e ela com um sorriso amável demais respondeu “Eu te amo meu neto querido”.
  -“aaaaahhh!” – eu-.
  Não sei porque mas saí correndo o mais rápido que pude. Mesmo com aquele Sol de propaganda de Doriana, eu suava frio. Corri. Corri muito. Passava derrubando barracas de flores e desviando de pessoas que me ofereciam chocolates e outras que pareciam querer me abraçar. Até que tudo ficou branco e eu parecia levitar. Senti aquela calma outra vez, e comecei a pensar.
  Não pode haver beleza onde só existe primavera, pois a vida é feita de entressafras. Porque a manga não dá o ano todo é que salivamos quando ela chega. As amoras sujam e mancham a calçada, mas porque elas são escassas nós relevamos isso e as saboreamos como uma joia. Porque há inverno é que a casca do caule de uma árvore engrossa e ela fica mais forte para ir mais alto. Assim também somos nós com as notas baixas e com os amigos que batem de carro e se vão. Não digo que o mau é necessário, mas sim aproveitável. Precisamos da noite para amar alguém à sós, mas também para chorar sozinho quando é tempo de chorar sozinho. Precisamos perder. Não só para aprendermos que podemos melhorar, mas para que outro alguém ganhe e seja reconhecido. As vacas quando... -“aaaahhhh!”-.
  Abro o olho e sento na cama quase que involuntariamente! Silêncio e respiração justificam as costas encharcadas de suor. No chão, ao meu lado,  encontro o chinelo que acabou de voar na minha cabeça para me acordar.
  Milton -“Acorda aí seu japonês folgado! O pessoal já tá chegando e o Lucas já trouxe o carvão. Não vou te chamar de novo!”.
Mole, desabo na cama. Olho alguns segundo para o teto, sorrindo agora. Levanto, escovo os dentes e com a mão ainda molhada dou uma ajeitada no cabelo. Olho no espelho e aquele sorriso da cama ainda não saiu.
  -“Ela chegou japonês! Cadê você?! Vou pegar pra mim hem!” Ouço lá embaixo. Parece ser o Ivan.
  Desço correndo...  

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