O que é Espiritualidade?

  Em 1991 nasceu a Lei de Incentivo à Cultura, popularmente conhecida como Lei Rouanet. Por meio dela, qualquer pessoa com um projeto cultural (aulas de música na comunidade, amostra de arte, cinema ao ar livre, etc) pode conseguir benefícios financeiros do governo. Mas para isso, existe um criterioso processo de legitimação do plano.  Nele, um quesito se faz principal: Provar que a execução desta ideia gerará benefícios para além de seu autor. Demonstrar como tal iniciativa pode vir a ser uma vantagem para aquela escola, aquele bairro, aquele grupo, aquela classe... Simples assim.
  Entendo por Espiritualidade (viva), algo bem parecido com um projeto de Lei já aprovado. Uma escolha consciente diante de uma condição ou experiência pessoal e intransferível. A iniciativa de organizar interiormente valores que, quando movidos pela fé (que é a confiança e a vontade de que o projeto dê certo), desencadeia um bem coletivo. Acredito que, assim como um projeto cultural, uma Espiritualidade só tem relevância, beleza e razão de ser, quando transforma uma pessoa de maneira a torna-la um benefício para seu redor. Uma fonte vida que transborda à inundar a rua toda.
  De que vale um monge espiritualmente equilibrado e zen, se ele se confinar no alto de uma montanha? De que vale uma candeia acesa se colocada sob a escada de uma casa vazia? De que vale o melhor dos violinistas, se este optar por apenas tocar quando estiver à léguas de distância da pessoa mais próxima? Acaso não vale mais uma Tubaína com os amigos do que o melhor dos vinhos francês tomado sozinho por uma viúva? De que vale um tabuleiro de xadrez para o que está só? Qual a relevância do pastor, padre, monge ou professor mais devoto e intelectual da terra, se este se recusar a abrir a boca ao que precisa ouvir? Ele não vale nada. E mais do que isso, torna-se algo desprezível.
  Minha preferência pelo cristianismo me fez entender que, se há de existir uma salvação, essa só pode ser coletiva. Parafrasearia Sartre dizendo que “O céu são os outros” ou melhor  “O céu só é, se com os outros”. O céu sozinho seria um inferno.

  Só se pode esperar relevância de uma espiritualidade que alcance o outro. Só se pode aprovar um projeto cultural que estenda suas estratégias de ganho para além do que articula. E assim como qualquer iniciativa da lei Rouanet, cada um também pode idealizar sua própria espiritualidade com as cores, perfumes e sabores que julgar bom e vantajoso, mas a expressividade, a fartura, a importância, a proeminência, o valor… a beleza... só existe nos projetos aprovados e nas espiritualidades vivas.
Tetelestai. 

Use seu Facebook ou ID Google, poste aqui o que você pensa. É importante...



0 comentários: