Dissecação
Se por um ápce de lucidez eu parasse meu dia por alguns minutos e pensasse mais do que friamente, ou realista de maneira simplória como adoro ser. Se tivesse a coragem de encarar a mim mesmo uma única vez. A sujeira não caberia na concha feita com as mãos. Entenderia, quem sabe, que se fosse eu de veras sincero comigo mesmo na intensidade que gosto de arrotar publicamente pelas praças, dissecaria primeiro a mim mesmo, conhecendo-me, e mais do que isso, reconhecendo todas as lacunas a corrigir e a preencher. Às acertaria se assim o fosse.
Começaria por exemplo reconhecendo que se não fosse eu tão orgulhoso ligaria agora àquele tio e diria o quanto o amo.
Se não fosse tão rancoroso e medroso casulo adentro não arranjaria tantos subterfúgios usados desculpas mil e iria logo até lá e diria tudo. Como não o fiz covardemente.
Se realmente amasse ao próximo como a mim mesmo, o acompanharia naquela noite por mais cansado que eu estivesse.
Se não tão materialista. Tão ou até mais do que aqueles que cegamente eu ataco com fome, veria quão valorosas as pessoas a minha volta são. E quão misericordioso Deus tem sido permitindo com que elas ao meu lado continuem.
Se pensasse menos em mim, como o conselho cinicamente dado ao amigo errante, veria como são as pessoas pacientes comigo mesmo! E como engolem pedra goela à baixo freqüentemente tolices minhas.
Não fosse o egocentrismo que transpiro e transbordo, não recolheria o braço em horas de tamanha importância a terceiros.
Não fosse o descaso que disputa espaço com meus glóbulos vermelhos, ouviria atenciosamente aqueles que a mim recorrem sangrando.
Não fosse o acomodamento que marca meu sofá, não teria a consciência política infantil de que hoje desfruto. E que como se não bastasse nem me faz vermelho diante de comentários rampeiros e em horários inoportunos!
Se não me faltasse vergonha na cara, não cometeria estrelas no céu tantos erros gramaticais à minha própria língua!
Outrora com fé de verdade, não desgastaria pelo uso constante o botão de um pecado já cometido e aprendido. Ainda o aperto.
Não fosse a fome por coisas desse mundo, estaria agora ao lado de minha família num pic-nic. Mas cá estou eu trancado planejando o próximo golpe.
Se tudo que eu falasse sobre autoconfiança fosse original a mim, sairia agora eu com as vergonhas a mostra na rua. Por que não? Não te asseguras de si?
E você? Hem?! Que tanto olhas com feição de criança ao zoológico? É... Não fosses tu tão igual a mim estaria a constranger-se de tanto identificar-se com tamanho lixo e não questionando minha arrogância de pirata bares à dentro.
Enxerga-te também se sois tão viril assim!
Encara-te! Aprenda-te e corrija-te.
muito bom!
ResponderExcluirProcure ler fernando pessoa!
Hahaha, tapa na cara preciso.. difícil encarar a nós mesmos e ver comos somos iguaizinhos a quem tantos julgamos..é isso aí, está na hora de olharmos pra dentro de nós..
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